Tag: literatura latino-americana (página 1 de 2)

“Não conseguimos viver sem uma telinha. Eu não vou ao banheiro sem o celular. É o terror ao silêncio.”

A Uruguaia, de Pedro Mairal


“We can’t live without screens. I always take my cellphone to the bathroom. It’s the fear of silence.”

La Uruguaya, by Pedro Mairal

[Resenha] Sepulcros de Vaqueiros

Sepulcros de Vaqueros (Alfaguara, 196 páginas, ainda sem tradução para o português) é um deleite para os leitores iniciados na obra do chileno Roberto Bolaño. Com várias referências a outras produções do escritor, as três histórias que compõem essa publicação póstuma – PatriaSepulcros de Vaqueros e Comedia del Horror de Francia – datam dos anos 90 e 2000.

Todas trazem temas caros à escrita de Bolaño – a violência, a ditadura chilena, a América Latina, a juventude, a literatura e a ficção científica. A resistência aos finais definitivos, característica marcante em seus romances, ganha ainda mais força nessas narrativas curtas.

Por serem textos que, provavelmente, ficaram sem conclusão ou foram aprimorados posteriormente em obras de maior fôlego, nas três histórias dessa coletânea, é possível assistir aos bastidores da escrita de um grande autor. Nessas narrativas, embora não se encontre o crème de la crème de sua literatura, desfruta-se um Bolaño mais livre e não menos genial.

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[Resenha] De Duas, Uma

De Duas, Uma (Editora Todavia, 104 páginas), breve romance do escritor mexicano Daniel Sada, é um sopro de originalidade para literatura latino-americana contemporânea. A partir de uma trama simples e uma linguagem direta, Sada constrói uma narrativa que, enquanto se desenvolve, não abre brechas para divagações, nem dele nem do leitor. Por outro lado, oferece uma infinidade de interpretações quando termina. Não fosse pela ausência de criaturas antropomórficas, o romance se assemelharia bastante ao gênero de fábulas.

As irmãs Gamal, gêmeas idênticas, são habitantes de uma cidadezinha do interior do México, onde trabalham como costureiras e vivem de forma austera, poupando com sabedoria seus rendimentos. Ficaram órfãs ainda jovens e foram cuidadas pela tia Soledad até que alcançassem idade suficiente para tomar as rédeas de seu destino.

A cada dia mais parecidas, Gloria e Constitución levam uma vida sem sobressaltos, encerradas em um universo apenas seu. No ateliê de costura, há uma placa que diz: “SOMOS PROFISSIONAIS OCUPADAS. LIMITE-SE AO QUE LHE DIZ RESPEITO. NÃO VENHA NOS DISTRAIR SEM MOTIVO. ATENCIOSAMENTE, AS IRMÃS GAMAL”.

O conflito começa quando tia Soledad convida as duas para uma festa de casamento da família, segundo ela, uma oportunidade imperdível para arrumar maridos. As gêmeas, não querendo deixar o ateliê abandonado e firmes na ideia de que o que é de uma pertence à outra, decidem que apenas uma delas irá a festa e, caso o pretendente apareça, elas embarcariam juntas nesse relacionamento:

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“Já não existem baús ou só existem baús vazios, esvaziados, sem anéis, sem mechas de cabelo, sem cartas bem dobradas prestes a se rasgar, sem fotos em sépia. A vida é um enorme álbum no qual é possível construir um passado instantâneo, de cores vivas e definitivas.”

 

Alejandro Zambra em A Vida Privada das Árvores

[Resenha] Doze Contos Peregrinos

Um dos problemas de se apaixonar por um escritor é ter que encarar que sua obra é finita. O sentimento de orfandade quando acreditamos que já desbravamos tudo o que havia para conhecer dos nossos autores favoritos é difícil de explicar, mas aposto que muitos vão se solidarizar com a minha história.

Há anos, me sentia órfã de Gabriel García Márquez. Depois dos clássicos, como Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, passei por muitos livros tentando encontrar a genialidade da escrita que nos faz abrir um sorriso no meio de uma frase e que, de tão marcante, deu origem a um movimento literário próprio, o realismo fantástico.

De livros muito especiais, como o primeiro volume de sua biografia inacabada, Viver para Contar, ao ótimo Crônica de Uma Morte Anunciada, passando pelo não tão bom Memórias de Minhas Putas Tristes, há muito tempo não encontrava uma obra do colombiano que me deixasse tão empolgada quanto Doze Contos Peregrinos (recomendação da Mari, a quem agradeço muito pela dica).

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