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“Vou lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele acontece todos os dias.”

 

Albert Camus em A Queda

[Resenha] Bel-Ami

Bel-Ami (Estação Liberdade, 368 páginas), obra mais conhecida do escritor francês Guy de Maupassant, tem tudo que um bom romance exige. O enredo é envolvente, os personagens passam longe da superficialidade e o estilo é fiel à sofisticação da literatura francesa. Não é difícil entender por que o livro continua conquistando leitores 133 anos após a sua publicação.

A história é centrada no sedutor George Duroy, cujo apelido, especialmente entre as mulheres, é Bel-Ami (“belo amigo”). Filho de camponeses e suboficial devolvido à vida civil, Duroy é mais um rapaz pobre tentando a vida em Paris no final do século XIX.

Depois de reencontrar um camarada de regimento, sua sorte começa a mudar. Charles Forestier, redator no jornal La Vie Française, é o responsável por tirar Duroy de um emprego mal remunerado em uma companhia férrea e introduzi-lo no meio jornalístico.

Dono de uma beleza incontestável, bem representada em seu bigode característico e sedutor, Duroy se dá conta, assim que começa a frequentar o círculo de amigos de Forestier, do quanto seu charme pode acelerar seus planos de ascensão social:

Então Forestier começa a rir: – Diga então, meu amigo, você sabe que realmente faz sucesso entre as mulheres? É preciso cuidar disso. Isso pode levá-lo longe. – Ele se cala um segundo, depois retoma, com um tom sonhador de quem pensa em voz alta: – Ainda é por elas que se chega lá mais rápido.  

Duroy não hesita em seguir esses conselhos. Sua primeira vítima é uma amiga da esposa de Forestier, Clotilde de Marelle. As ausências frequentes do marido, por causa do trabalho, facilitam o envolvimento amoroso da Sra. de Marelle com Duroy. Nesse período, o Bel-Ami ainda está se firmando no jornal e seus rendimentos não são suficientes para bancar as extravagâncias da nova vida. Não são poucas as vezes que Clotilde o socorre financeiramente. Embora se faça de rogado, Duroy sempre acaba aceitando a ajuda da amante.

As personagens femininas do romance de Maupassant desempenham um papel tão central quanto o de Duroy na história. Se, por um lado, elas são vistas como pouco confiáveis, interesseiras e tolas, como a Sra. de Marelle, que não hesita em trair o marido e cair na conversa do Bel-Ami, por outro lado, a invisibilidade social da mulher também é abordada.

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[Canção de Ninar] Semana #8

Reta final da leitura de Canção de Ninar! A relação entre a babá e os patrões está cada vez mais insustentável, e os impulsos de Louise, cada vez mais evidentes. Depois de começar o romance pelo fim, com um desfecho para lá de trágico, o que será que Slimani ainda nos reserva para os últimos capítulos? Na próxima semana, terminamos essa leitura!

Mariane Domingos e Tainara Machado

O episódio da carcaça de frango estragada, que Louise deu para Mila comer, foi a gota d’água para Myriam. Nessa obsessão da babá por evitar desperdícios, a mãe percebe que aquela Louise, de aparência tão moderada, fala mansa e gestos calmos, é capaz de chegar aos extremos.

Apesar de ficar assustada, Myriam não tem uma conversa franca com a babá, principalmente porque tem receio de perdê-la agora. Isso estragaria seus planos e sua rotina. Ela decide, junto com o marido, esperar mais um pouco até poder colocar o filho mais novo também na escola.

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[Canção de Ninar] Semana #7

A dificuldade de encarar sua dura realidade e a inevitável comparação com a vida alheia tornam a existência de Louise cada vez mais amarga. Os rastros de ódio que a levam ao ato brutal do início do romance já são evidentes e assustadores. Para a próxima semana, avançamos até a página 169 e ficamos a quatro capítulos do fim Canção de Ninar!

Mariane Domingos e Tainara Machado

O regresso dos patrões, depois da temporada nas montanhas, não traz boas notícias à Louise. Logo que eles se reencontram, Paul confronta a babá com uma notícia que chocou o casal. De imediato, ela pensa que os vizinhos a denunciaram, relatando os dias que ela passou no apartamento do casal, durante sua ausência. No entanto, não se trata disso. Paul e Myriam receberam uma notificação do Tesouro que revelava as dívidas de Louise e seu desinteresse em negociar o valor devido.

A babá se sente quase aliviada, quando percebe que os patrões não descobriram seu deslize durante as breves férias. A revelação dos seus problemas financeiros lhe inspira menos temor do que a descoberta de seu comportamento, cada vez mais obsessivo, de negação da própria realidade. Louise vive em um estado constante de fuga:

Louise queria tanto ficar. Dormir lá, no pé da cama de Mila. Não faria barulho, não incomodaria ninguém. Louise não quer voltar para o seu apartamento. A cada noite ela volta um pouco mais tarde e anda pela rua, com os olhos baixos, o cachecol erguido até o queixo.

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[Canção de Ninar] Semana #6

Que tipo de renúncias os casais fazem quando decidem ter filhos? Elas são mais cruéis para as mães por fatores naturais ou por convenções da sociedade? É possível mudar essa realidade ou a culpa sempre será um sentimento para as mães que optam por conciliar carreira e maternidade? Esses dilemas aparecem com cada vez mais força em Canção de Ninar, de Leïla Slimani. Está nos acompanhando nesta leitura? Então conte para a gente sua opinião sobre esses temas. Para a próxima semana, avançamos até a página 142.

Mariane Domingos e Tainara Machado

– Vamos viajar e levaremos as crianças com a gente. Você vai ser uma grande advogada, eu produzirei artistas de sucesso e nada mudará.

Eles fizeram de conta, eles lutaram.

A frase de Paul, que logo é contestada pelo narrador de Canção de Ninar, mostra que Leïla Slimani não guarda meias palavras quando é preciso expor os dilemas inerentes à decisão de ter filhos. Quando Myriam engravida de Mila, o casal ainda guarda a fantasia de que nada em sua rotina conjugal irá mudar, uma realidade que logo se mostra bem mais dura.

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