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“A rebeldia de Jaja era como os hibiscos roxos experimentais de Tia Ifeoma: rara, com o cheiro suave da liberdade, uma liberdade diferente daquela que a multidão, brandindo folhas verdes, pediu na Government Square após o golpe. Liberdade para ser, para fazer.”

 

Chimamanda Ngozi Adichie em Hibisco Roxo

[Resenha] Pureza

Depois de escrever o “grande romance americano” sobre a derrocada da classe média nos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush, o americano Jonathan Franzen parte de uma premissa mais simples em Pureza, seu livro mais recente, lançado no Brasil no ano passado pela Companhia das Letras.

A história narra a busca de uma jovem, Pip Tyler, por seu pai, sobre quem a mãe se recusa a dar informações. O enfoque mais restrito não quer dizer, contudo, que o autor tenha deixado de lado alguns traços marcantes de suas obras anteriores, como o hábito de escrever livros longos, a partir de múltiplos pontos de vista, sem linearidade de tempo. Mas depois que Liberdade foi considerado uma obra-prima e a revista Time estampou Franzen na capa como o grande romancista americano, o autor parece ter deixado certa pretensão formal de lado para escrever um livro mais tradicional.

Mais à vontade, o autor não deixa de tratar com ironia o status que ganhou como escritor nos últimos anos. Um de seus personagens, em determinado momento, busca escrever um romance que lhe garantirá um lugar no cânone norte-americano, mas avalia que, para chegar lá, precisa de mais do que conteúdo.

Houve um tempo em que bastava escrever O Som e a Fúria ou O Sol Também se Levanta, Mas agora tamanho se tornara essencial. Livro grosso, história longa.

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[Resenha] Voltar Para Casa

Voltar para casa. Essa frase simples, cheia de significado e tão cara à literatura, ganhou contornos dignos de nota nas mãos da premiada escritora norte-americana Toni Morrison.

Não são raras as narrativas que partem da ideia lírica do retorno ao lar. A parábola bíblica do filho pródigo e a odisseia de Ulisses em seu regresso a Ítaca estão aí para confirmar o flerte antigo da literatura com essa temática. No livro Voltar para Casa (no original, Home), lançado neste ano no Brasil, Morrison se destaca por questionar a visão romântica de lar. Já na epígrafe da obra, uma canção escrita pela autora muitos anos antes, percebemos essa intenção:

De quem é esta casa?
De quem é a noite que não deixa entrar a luz
aqui?
Me diga, quem é dono desta casa?
Não é minha.
Sonhei com outra, mais doce, mais clara
com uma vista de lagos que barcos pintados atravessam;
de campos largos como braços abertos para mim.
Esta casa é estranha.
Suas sombras mentem.
Olhe, me diga, por que minha chave encaixa na fechadura?

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[Resenha] As Correções

Jonathan Franzen foi reverenciado na capa da revista norte-americana Time como o grande romancista americano por Liberdade, mas foi com As Correções que se destacou na cena literária mundial. Este é um livro por vezes cômico, mas ao mesmo tempo delicado e repleto de questões morais sobre uma das doenças mais assustadoras e onipresentes do século XXI: o mal de Alzheimer. É também um dos meus livros preferidos.

Como quase toda ficção de Franzen, As Correções traz consigo forte carga autobiográfica. O livro retrata a saga de uma familia americana comum , habitante dos subúrbios da pequena cidade de St. Jude (os pais de Franzen são de Saint Louis). As crianças, hoje adultos, foram embora e estão espalhadas pelos Estados Unidos. Deixaram para trás Alfred, o pai, que está aposentado há alguns anos da empresa em que trabalhou quase a vida inteira, e precisa conseguir conviver com Enid, a esposa de gênio forte, que conta até os centavos e nunca deixa os comentários desagradáveis de lado. As tardes Em St. Jude são carregadas.

Por toda a casa ressoava o toque de uma campainha de alarme que só Alfred e Enid conseguiam ouvir claramente. Era o alarme da ansiedade.

Enid se irrita porque precisa checar, de quase cinco em cinco minutos, o que Alfred está fazendo. Se antes ele conseguia pintar o sofá de vime em algumas horas, agora o trabalho poderia demorar mais de um mês – e mesmo assim só as pernas do móvel estavam prontas. Alfred argumenta que é tão delicado lixar a palha quando descascar um morango, ou que o pincel tinha secado, por isso o trabalho demora tanto. As evidências de que algo está errado se amontoam, mas todos evitam olhar. 

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“A necessidade de vestir uma máscara pública é tão básica quanto desejar a privacidade na qual possamos retirá-la. Precisamos tanto de um lar que não seja um espaço público quanto de um espaço público que não seja um lar.”

 

Jonathan Franzen em Como ficar sozinho

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