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[Hibisco Roxo] Semana #9

No post de hoje, o último sobre Hibisco Roxo, abrimos espaço para que os leitores que nos acompanharam ao longo dessa leitura pudessem compartilhar o que acharam do livro. Ficamos muito felizes com a participação de vocês!

Ana Carolina Athanásio

Em primeiro lugar gostaria de enfatizar o quão acertada foi a escolha de Hibisco Roxo. Colocar uma escritora negra, feminista e africana no primeiro Clube do Livro já saiu do lugar comum. Nós, acostumados com a literatura branca ocidental, já não temos quase contato com a literatura africana – deixada na periferia da periferia do mundo literário e só recentemente ganhou força com Mia Couto, Agualusa, Nadine Gordimer e Chimamanda (dentre muitos outros poucos citados) – e o livro ajudou a descobrir um pouco sobre o que é ser mulher, vítima de uma sociedade machista no seio de um continente praticamente ignorado.

No começo o livro causou realmente uma estranheza pelo fato de parecer tudo tão surreal se pensarmos na sociedade em que vivemos. Mas no final você percebe que talvez a “vida real” seja realmente assim.

O autoritarismo e machismo de Eugene fez vítimas: filhos e esposa. Seu fanatismo religioso e intolerância o afastou de seu pai pelo simples fato dele ter se mantido fiel ao lado místico/religioso da cultura nigeriana.

O contraponto encontrado por Chimamanda foi sensacional. Colocar a tia Ifeoma como sinônimo de uma possível liberdade real foi uma ótima tacada da autora para deixar ainda mais forte o sentido de repulsão do leitor diante dos atos de Eugene.

Por fim, vale ressaltar que Chimamanda escreve de um jeito fácil e sereno. Foi uma leitura maravilhosa por ter fluído facilmente, o que não faz do livro raso. A maneira com que incluiu certas palavras locais e expressões nigerianas (que às vezes passam e nem percebemos) foi bacana para dar essa ideia de proximidade em relação aos personagens.

E que, após esse primeiro Clube do Livro, venha Svetlana Aleksiévitch. : )

 

Gabriela Domingos

A história narrada por Kambili é sensível e delicada. Uma leitura que flui, incomoda e provoca a reflexão. Em diversos momentos somos levados a sentir as dores físicas e psicológicas de uma família marcada pela intolerância da figura paterna. Em outros momentos, a esperança para as situações adversas aparece com as risadas de Tia Ifeoma, a melhor personagem. Enfim, o livro é ótimo do começo ao fim.

 

Gabriella Levorin

Hibisco Roxo foi o segundo livro que li esse ano. Após uma leitura um pouco tensa e lenta de Too Big to Fail (Andrew Ross Sorkin), tudo o que eu precisava era da indicação de um livro escrito por Chimamanda! Ela tem uma escrita fluída, que te prende facilmente aos personagens e faz com que você sinta que está assistindo a tudo de perto, lá na Nigéria, onde a história se passa. Eu amei o livro. A história parece simples, mas os episódios de tensão com o pai de Kambili, a autoridade imposta por ele, a submissão à religião, a descoberta de um novo lado com a Tia Ifeoma e o Padre Amadi, tudo visto sob a ótica da inocência de uma menina de 15 anos, faz com que você devore as páginas e acabe o livro em 2 dias (sim, eu roubei no Clube do Livro, confesso)! Ótima indicação e ótimas análises, meninas! Prometo ser mais obediente com o próximo livro. 

 

Lilian Cantafaro

Em Hibisco Roxo, Chimamanda nos apresenta um pouco da cultura nigeriana: o idioma Igbo, a culinária, as vestimentas coloridas, as crenças. Ela nos mostra ainda que suas tradições foram fortemente oprimidas pela colonização inglesa, seja pela obrigação do uso do inglês como língua oficial, que passa a ser falado pela elite e parte da sociedade que tem acesso à educação – rejeitando assim os dialetos falados pelo povo mais simples – ou pela forte imposição do cristianismo, condenando as crendices religiosas locais.

A autora não cobre com riqueza de detalhes a época da ditadura, mas é por meio de uma família que ela nos dá o clima de tensão, intolerância e violência a que o país foi submetido nesse período.

Tudo se modifica quando da chegada de um personagem que representa a liberdade. É este personagem que fará com que a família reflita e não aceite mais a submissão, reivindique a liberdade de expressão e até mesmo o respeito aos costumes e cultura nigerianos. É também este personagem que nos mostra que estes dois mundos, a Nigéria antiga e a colonizada, são passíveis de conviverem sem que uma precise se sobrepor ou anular a outra.

O caminho a seguir em direção à liberdade é apontado, mas será a própria família – representando aqui o povo nigeriano – que terá que, entre acertos e erros, descobrir como fazê-lo.

[Lista] 5 personagens queridos

Sabe aquele personagem que deixa saudade quando a leitura termina? Ou que dá vontade de conhecer, abraçar e conversar? Ou ainda que parece tão real, que você tem até um rosto bem definido e uma voz para ele? Hoje é dia de personagens queridos na Lista da Semana!

1. Jean Valjean: já comentei em um Leitor no Divã aqui no blog que uma das minhas maiores dificuldades na leitura de Os Miseráveis surgiu depois que terminei o livro. Não conseguia me desapegar do personagem Jean Valjean. Como o próprio título antecipa, o clássico romance de Victor Hugo não trata de histórias de vida fáceis ou tranquilas. Ele fala de gente miserável, que sofre de tudo e mais um pouco. Jean Valjean é um deles. Quando parece que sua vida vai entrar nos eixos e ele irá aproveitar a paz que merece, acontece outra desgraça. A força, a persistência e a generosidade do personagem diante das rasteiras que a vida lhe dá cativam qualquer leitor. Uma das partes mais bonitas (e longas) do livro é talvez a mais representativa de quem é Jean Valjean. Estou falando do trecho em que ele foge pelos esgotos de Paris, carregando, nas costas, o futuro genro gravemente ferido. Como se não bastasse, encontra todos os tipos de perigo pelo caminho. É ou não é um super-herói? <3

2. Helena: eu sou fã de carteirinha de Machado de Assis. Para mim, ele é gênio da literatura mundial. Helena está longe de ser seu melhor ou mais conhecido romance, mas é um dos meus preferidos. Já perdi a conta de quantas vezes o li. Passei a gostar do nome Helena por causa desse livro. Tenho um carinho especial pela edição antiga da Ática, da Série Bom Livro, bem comum em colégios por sua organização didática. O que me atraiu nessa edição, e me fez escolher o livro na biblioteca da escola, foi a ilustração de uma mulher belíssima na capa, de olhar forte, contrastando com uma roupa delicada e uma flor em suas mãos. De cara, gostei daquela Helena.

A obra representa a transição da fase romântica para a fase realista de Machado. Ainda há resquícios de história água com açúcar, típica do modelo de romance romântico. Mas a escrita inteligente de Machado, sobretudo nas análises ácidas dos costumes, sociedade e política da época, não deixa o livro cair em estereótipos. O mistério que envolve a personagem Helena equilibra um pouco a posição de vítima em que ela é colocada, tornando-a uma personagem interessante. Ela é o símbolo de uma opinião muito clara de Machado, que aparece em outros livros do escritor: o mundo e as regras da vida em sociedade são impiedosas com os desfavorecidos e genuínos. Quem se sobressai são os hipócritas, que vivem e defendem um mundo de aparência e de poder. Helena não tem a força para vencer esse cenário desfavorável, mas ainda assim é uma personagem memorável.

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[Hibisco Roxo] Semana #7

Agora é reta final! Na próxima semana, vamos até o fim do livro. Dá dor no coração nos despedir de Hibisco Roxo, mas precisamos confessar: está quase impossível segurar o ritmo nessas páginas finais!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O descontrole de Papa marcou essa última leitura. E, desta vez, a vítima não foi somente Mama. Kambili também sentiu a violência e a intolerância do pai. Depois de flagrar ela e o irmão admirando o retrato do avô, Papa dá uma surra que leva a menina ao hospital em estado grave.

Sempre depois de cometer suas atrocidades, Eugene tem lampejos de preocupação:

O rosto de Papa estava próximo do meu. Tão perto que seu nariz quase tocou o meu, mas mesmo assim vi que seus olhos estavam mansos, que ele falava e chorava ao mesmo tempo.

– Minha filha preciosa. Nada vai acontecer com você. Minha filha preciosa.

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[Hibisco Roxo] Semana #6

Está acabando! 🙁 Para a próxima semana, lemos mais dois capítulos –  até a página 267, se você tem a edição da foto.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Perdas e descobertas chacoalharam a vida de Kambili. A garota que voltou para casa depois de uma temporada em Nsukka não é mais a mesma.

Em poucos dias, ela ganhou e perdeu alguém na família: seu avô. A breve convivência com ele na casa da tia Ifeoma valeu mais do que os últimos anos de visitas monitoradas e rápidas que Papa autorizava. Sob o incentivo da tia, Kambili se permitiu conhecer melhor aquele “homem pagão” e entender seus costumes.

O estranhamento é claro no começo. Kambili, doutrinada por Papa durante tantos anos, questiona a tia sobre como Nossa Senhora pode interceder por um pagão. O que temos a seguir é uma aula sobre respeito às tradições. Às vezes, nos lembra tia Ifeoma, o que é diferente é tão bom quanto o que é familiar. Estamos – ou ao menos deveríamos estar – todos rezando pelas mesmas coisas.

Em uma das cenas mais bonitas desses últimos capítulos, a garota, convidada pela tia, assiste, com um misto de curiosidade e admiração, à oração matutina do avô. Após acompanhar a cena toda, Kambili nos surpreende com uma conclusão bastante crítica do que viu, comparando os ritos do avô com sua própria religião:

Ele ainda sorria quando me virei silenciosamente e voltei para o quarto. Eu nunca sorria depois de rezar o rosário em casa. Nenhum de nós sorria.

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[Hibisco Roxo] Semana #5

Para a próxima semana, avançamos mais um capítulo, até a página 218 da edição da foto.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

Nos capítulos desta semana, começamos a sentir os cheiros suaves de liberdade oferecidos pelos hibiscos roxos experimentais de tia Ifeoma. Jaja e Kambili foram passar uns dias com a tia na cidade universitária de Nsukka, onde ela mora, e aos poucos são apresentados a um mundo com menos horários fixos e restrições, mais abertura para falar e questionar e até uma relação mais natural, menos forçada com a religião.

Essa mudança de ares nos proporciona um conhecimento mais amplo do país, não só geográfico, mas também socioeconômico. Pela perspectiva de Kambili, já notamos que também em Nsukka há desigualdade por toda parte, embora a menina não formule a questão nesses termos. Ao chegar à universidade, descreve as casas de dois andares com entrada de cascalho para os carros, que mais tarde saberemos que pertenceram aos professores brancos, seguidas por bangalôs e então por blocos de prédios com espaços largos na frente, em vez de entrada de carros. Há ainda os apartamentos colados uns aos outros, que abrigam os funcionários da universidade.

Nos capítulos anteriores, tínhamos conhecido a fartura da casa de Kambili na capital Enugu e no interior, em Abba. Nos raros momentos em que a pobreza era apresentada, sempre surgia a figura “generosa” de Papa distribuindo dinheiro com a mesma facilidade com que distribuía exigências. Na casa de tia Ifeoma, a realidade é outra: os alimentos não são tão variados e o espaço bem menos abundante. À escassez de diversos itens, que para Kambili pareciam tão básicos, se contrapõem a alegria e a praticidade de tia Ifeoma, que aparenta não se abalar com a falta de gasolina iminente ou com a água insuficiente até para descargas.

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