“O crescimento do fanatismo pode ter relação com o fato de que quanto mais complexas as questões se tornam, mais as pessoas anseiam por respostas simples.”
Amós Oz em Como Curar Um Fanático
“O crescimento do fanatismo pode ter relação com o fato de que quanto mais complexas as questões se tornam, mais as pessoas anseiam por respostas simples.”
Amós Oz em Como Curar Um Fanático
“Quando eu tinha uns seis anos de idade, chegou o grande dia para mim: papai esvaziou um cantinho de uma de suas estantes e permitiu que eu transferisse meus livros para lá. Para ser mais preciso, ele me deu uns trinta centímetros, mais ou menos a quarta parte da prateleira mais baixa. Abracei meus livros, que até então viviam deitados sobre o tapete, ao lado da minha cama, e os carreguei até a estante de papai e os arrumei em pé, as costas voltadas para o mundo exterior, e a frente, para a parede.
Aquele foi um ritual de iniciação, o verdadeiro rito de passagem para a idade adulta: o individuo cujos livros ficam de pé já é um homem, não mais uma criança. Agora eu era como o meu pai. Meus livros estavam de pé.”
Amós Oz em De Amor e Trevas
De Amor e Trevas, romance autobiográfico do escritor israelense Amós Oz, é um passeio memorável pela Jerusalém dos anos 40 e 50, com um olhar profundo sobre o lar de sua infância, que, assim como a conturbada cidade, guardava belezas e tensões dignas de nota. Em uma narrativa que abre mão da ordem cronológica para acompanhar os caprichos da memória, Oz revisita o passado e resgata a construção de sua própria identidade e a do seu país.
Filho de imigrantes do Leste Europeu, que fugiam do antissemitismo crescente no Velho Continente, Oz nasceu em Jerusalém, em uma família de intelectuais. Seu pai, Árie Klausner, era sobrinho do grande estudioso da história e literatura hebraica Yossef Klausner. Apesar de toda sua erudição, o pai de Oz não conseguiu seguir os passos do tio e jamais ocupou um lugar de destaque na elite intelectual de Israel. Avesso ao silêncio e sempre em busca do gracejo perfeito, Árie era uma pessoa brilhante que nunca soube mostrar seu brilho.
Como ele conquistou Fânia Klausner, mãe de Oz, era um verdadeiro mistério. Dona de uma beleza contagiante e de uma retórica incomum, ela tinha a habilidade de se colocar, com extrema naturalidade, no centro das conversas mais eruditas. A luz que Fânia irradiava no convívio social disfarçava a escuridão que ela carregava em seu íntimo. O abandono da terra natal para viver em um lugar desconhecido e ermo, um casamento infeliz, uma alma sensível demais para crueza do mundo – essas são apenas algumas das especulações que pululam na narrativa de Oz, em uma tentativa de compreender, ou ao menos apaziguar, o fim trágico da mãe. Fânia se suicidou quando o filho tinha 12 anos.
“No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.” A famosa frase de Fernando Sabino é sempre lembrada, especialmente nas redes sociais, para indicar que uma situação difícil ainda tem saída. Mas quando pensamos em romance na literatura, fica mais difícil acreditar em final feliz.
Será que o amor é, de fato, como escreveu Ambrose Bierce há mais de um século em Dicionário do Diabo,
Insanidade temporária curada pelo casamento ou pela remoção do paciente das influências sob as quais ele contraiu a doença?
Para além do humor irônico de Bierce, sabemos que a literatura é recheada de romances que não acabaram bem. Os clássicos, como Romeu e Julieta, Anna Kariênina, Emma Bovary e Dom Casmurro, todos contam histórias de paixões que, no enfrentamento de disputas familiares, de convenções sociais, do desgaste do tempo e de olhares suspeitos sobre o casamento, acabaram se desfazendo.
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