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[Divã] Domínio da linguagem

Após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, muito se falou e escreveu sobre o aumento da procura por livros que retratam um futuro distópico, com Estados totalitários assumindo poder absoluto sobre cidadãos.

Assim, dispararam as vendas de 1984, o clássico escrito por George Orwell sobre um governo hiperautoritário capaz de monitorar – e controlar – cada passo de seus cidadãos.

Publicado em 1932, Aldous Huxley imaginou, em Admirável Mundo Novo, um planeta dividido em dez grandes regiões administrativas, com definições categóricas das funções de cada um na sociedade. Os menos dotados vão para o trabalho braçal, outros são destinados a comandar. Os avanços da ciência passam a ditar o destino de cada um, sem espaço para surpresas, para o imponderável, o imprevisível.

Mais recentemente, até por causa do seriado que está sendo transmitido nos Estados Unidos com base no livro, quando se pensa em futuro distópico, não se fala em outra obra que não seja O Conto da Aia, de Margaret Atwood. Empolgante na mesma medida em que é absolutamente assustador, a escritora canadense descreve um mundo em que as mulheres perderam qualquer direito ou liberdade.

O Estado patriarcal que assumiu os Estados Unidos divide essas mulheres em esposas, aias ou serviçais: as que não se encaixam nesses perfis são enviadas para as Colônias, no qual se encarregam de limpar rejeitos radioativos. O acesso à informação foi quase totalmente extinto. A leitura foi banida, e a comunicação é estritamente controlada.

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[O Amor dos Homens Avulsos] Semana #8

Encerramos a leitura de mais uma edição do nosso Clube do Livro! Gostamos muito de O Amor dos Homens Avulsos e, agora, fazemos coro a todas as boas críticas que nos levaram à escolha do título escrito por Victor Heringer. Os últimos capítulos mantiveram a força da narrativa e fecharam de maneira muito coerente a ideia que baseia a história. E vocês, gostaram da leitura de O Amor dos Homens Avulsos? Fiquem ligados: na próxima semana, teremos um post muito especial por aqui!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A relação de pai e filho entre Camilo e Renato é finalmente definida. A partir das sutilezas do dia a dia, Victor Heringer mostra como os laços de cuidado e afeto vão se construindo. Dos detalhes da ceia de Natal, que neste ano deveria ser mais especial pela presença do garoto, às broncas pelas travessuras, fica claro que a ternura venceu o ódio:

Onde é que começa o amor ninguém lembra. Os gatilhos do ódio são todos fáceis (…). Aí poderia ter começado o ódio, mas não começou. Poderia ter começado quando o moleque berrou que ele não era seu pai porque foi proibido de ir para rua às oito da noite. Mas não começou.

É assim que Camilo sabe que ama o filho.

O ódio nunca começa quando pode.

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[Resenha] O jornalista e o assassino

Em O Jornalista e o Assassino, a repórter Janet Malcom retoma a história de um famoso crime nos Estados Unidos para refletir sobre princípios jornalísticos e, principalmente, sobre a delicada relação moral entre jornalistas e suas “fontes”, os personagens que dão vida e cor às histórias narradas em grandes reportagens.  

A história do médico Jeffrey MacDonald, acusado e condenado pelo assassinato da esposa e das duas filhas pequenas, é o pano de fundo desse livro, mas não é exatamente essa a história que Malcom quer contar. MacDonald nunca se declarou culpado, a despeito de diversas evidências que lhe eram bastante desfavoráveis. Ao fim do julgamento, que o sentenciou à prisão perpétua, decidiu procurar alguém que pudesse fornecer a sua própria versão dos fatos. Esse alguém seria o jornalista Joe McGinniss, que havia alcançado o sucesso com a publicação de A Promoção do Presidente, um relato sobre as táticas usadas pelo então candidato à Presidência Richard Nixon para parecer menos detestável aos eleitores.

Malcom expõem o conflito ético subjacente nessa relação logo no primeiro parágrafo:

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[O Amor dos Homens Avulsos] Semana #7

Nas últimas páginas, Camilo percorreu os dias finais de Cosme e descreveu, enfim, como foi o assassinato de seu amigo. Ao buscar essas memórias, o personagem também é tomado por uma sede de vingança que o leva a imaginar um crime cruel contra Renato, o neto do assassino de Cosmim, em um trecho em que a escolha pelo amor ou pelo ódio chegou ao seu apogeu. Na próxima semana, encerramos o livro! Foi uma leitura rápida, mas intensa!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Detalhes do assassinato de Cosme são revelados à medida que o narrador trava uma luta interior para decidir o desfecho de sua relação com Renato, o neto do assassino. Na fronteira entre a ternura e o ódio, seus sentimentos se confundem e suas ações ameaçam ir de um extremo a outro – do carinho de um abraço à violência de um assassinato.

A morte repentina e brutal de Cosmim deixa marcas indeléveis em Camilo. Ao relembrar cada passo que levou ao dia fatídico, desde o momento em que o assassino flagra a intimidade do casal até o enterro que atraiu centenas de pessoas superficialmente comovidas, o narrador justifica como o crime o abateu para a vida toda:

O assassinato tomou domínio de mim para o resto da vida. Fui colonizado.

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[O Amor dos Homens Avulsos] Semana #6

Passamos da metade de O Amor dos Homens Avulsos, de Victor Heringer, e nas últimas páginas o amor de Camilo por Cosmim deixou o terreno das vontades para ganhar materialidade, com o primeiro beijo. Corajosos, em vez de se esconder os dois assumem a relação, primeiro para os amigos do bairro e depois para toda a gente do Queím. O choque, contudo, não vem da “cara amolecida” dos amigos, e sim das “caras velhas e das moças de família” do bairro, um dos trechos em que a capacidade do autor de construir julgamentos de forma tênue e sensível ficou mais evidente. Na próxima semana, avançamos até o capítulo 59, na página 127. Continue acompanhando com a gente essa leitura!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Passada a euforia da descoberta do primeiro amor, Cosme e Camilo têm um choque de realidade. As vulnerabilidades e o preconceito entram em cena quando a relação dos dois vem à tona.

Ao mesmo tempo em que o amor faz o garoto se sentir completo, a dependência em relação a Cosme o enfraquece. É como se esse sentimento tirasse Camilo da solidão, mas o ameaçasse a todo momento com ela. Bastava perder a pessoa amada para que tudo desmoronasse. E era um caminho sem volta: o amor era de tal forma o alcance da plenitude que retornar à situação de antes já não bastaria. Neste trecho, Heringer descreve as sensações que sucedem o primeiro beijo do casal e, desenvolve, brilhantemente, essa dicotomia:

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