Página 82 de 110

[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #7

Estamos apreensivas: o que terá acontecido no Lar da Feliz Idade? Depois de testemunhar o sofrimento do amigo Esteves e remexer em algumas memórias, António é surpreendido por uma notícia horrorosa, que descobriremos na leitura da próxima semana de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe. Avançamos mais dois capítulos – até a página 175, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 161, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Prestes a completar 100 anos, em vez de ganhar um presente, Esteves recebeu um castigo: a mudança de quarto. Perdeu o direito à vista esperançosa das crianças a esbanjar juventude e se viu obrigado a dividir o espaço com o senhor Medeiros, dono de um corpo inerte, não fosse pelo olhar e pelos gemidos inquietantes.

o esteves dizia que já muito tempo havia passado, e que aquilo era um desrespeito pelo seu centésimo aniversário. uma data tão bonita, uma vitória tão grande do seu espírito sobre a vida, e o feliz idade fazia-lhe aquela desfeita, metendo-o à varanda do cemitério para se convencer a desistir mais depressa.

Não é a primeira vez que percebemos no romance a ideia da vida como uma luta constante. O verbo “desistir” nesse contexto vem bem a calhar. Viver é um ato de bravura, mais ainda quando a velhice já é um fato, como no caso do amigo centenário de António.

Leia mais

[Resenha] Meia-Noite e Vinte

Daniel Galera se tornou uma espécie de “fenômeno literário” brasileiro com Barba Ensopada de Sangue, lançado em 2012. Seu novo romance era aguardado, portanto, com uma expectativa enorme. Meia-Noite e Vinte confirma o autor como o expoente maior de uma safra de ótimos escritores como há muito não se via na cena literária brasileira.

O ponto de partida de Meia-Noite e Vinte é justamente a morte de uma espécie de alter ego de Galera, Andrei Dukelsky, descrito como “um dos maiores novos talentos da literatura brasileira contemporânea”. Mais conhecido pelo apelido, Duque foi morto de forma brutal, ao ter seu celular levado durante uma corrida pelas ruas de Porto Alegre.

A tragédia, que chega a Aurora por meio do Twitter, força a aproximação dela com os outros dois narradores do livro, Antero e Emiliano. Juntos, os quatro haviam escrito, na virada do milênio, um cultuado fanzine digital, chamado Orangotango.

Leia mais

[Escritores] Ian McEwan

A relação da literatura com a realidade foi o tema da palestra de Ian McEwan no Fronteiras do Pensamento, na última quarta-feira, em São Paulo. O escritor britânico, autor de obras de sucesso, como Reparação e Solar, afirmou que o encontro entre esses dois mundos é inevitável:

Todos os romancistas que escrevem ficção estão lidando com a realidade em que vivemos.

McEwan divertiu a plateia com uma série de anedotas sobre mensagens que recebeu de leitores apontando deslizes na acurácia de sua narrativa. A constelação que nunca poderia estar ali, naquele lugar onde a cena se desenrola, àquela época do ano. A troca de marcha do carro que jamais aconteceria, porque aquela linha da Mercedes só trabalha com transmissão automática. O pincel, que em um procedimento cirúrgico real, seria uma esponja. Detalhes não passam despercebidos por quem é especialista no assunto ou apenas atencioso. O leitor sente a necessidade de se identificar com aquilo que lê e o realismo tem um papel fundamental nesse processo.

Leia mais

“Para Tereza, o livro era o sinal de reconhecimento de uma irmandade secreta. De fato, contra o mundo de grosseria que a cercava, tinha uma só arma: os livros que tomava emprestados na biblioteca municipal (…) gostava de passear na rua com livros debaixo do braço. Eram para ela o que a elegante bengala era para um dândi no século passado. Eles a distiguiam das outras.”

 

Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser

[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #6

Transcorrido um ano desde que António está no Lar da Feliz Idade, a dor da perda de Laura vai, aos poucos, se transformando em saudade e permitindo que nosso casmurro narrador volte a se sentir aquecido sob o sol. Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos na leitura de A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe – até a página 154, se você tem a edição da Biblioteca Azul, ou até a página 140, se você tem a edição da Cosac Naify.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O cemitério, quase um personagem de A Máquina de Fazer Espanhóis, volta a aparecer no nono capítulo.  Dessa vez, ao contrário da outra visita descrita no livro, em que António não conseguiu nem chegar perto do lugar, o que lhe chama atenção é a mesmice das paisagens, das placas, das fotografias já apagadas: a igualdade de todos perante a morte.

tanta cultura e tanta fartura e ao pé da morte a igualdade frustrante e a mesma ciência. sabemos todos rigorosamente uma ignorância semelhante.

O lugar em que Laura está enterrada, como não poderia deixar de ser, também é exatamente igual aos outros, sem nada que a diferenciasse da última morada dos demais naquele cemitério. Para António, aquilo não deixa de ser um choque, mais uma constatação da perda da esposa, que sempre havia se diferenciado dos demais e se fazia notar ao entrar em uma sala, pela força de sua beleza interior e de seus gestos.

Leia mais

< Posts mais antigos Posts mais recentes >

© 2025 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑