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[Enclausurado] Semana #8

Nos últimos capítulos, o narrador de Enclausurado, de Ian McEwan, tomou duas decisões importantes: não é capaz de se suicidar e nem pretende seguir os passos da mãe como assassino para se vingar de seu tio. Qual é, então, o futuro que lhe aguarda? Faltando poucas páginas para o fim dessa leitura, queremos saber o que você está achando da história desse inusitado narrador! Para a próxima semana, avançamos mais três capítulos, até a página 167.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Se o narrador de Enclausurado já aprendeu algo sobre a natureza humana é que ela é, essencialmente, contraditória e que o processo de tomada de decisão costuma ser caracterizado por impulsos e retrocessos, idas e vindas, até que se tenha feito um avanço irreversível, como um assassinato, por exemplo.

Ainda que isolado do mundo, o feto é capaz de compreender melhor do que Claude, seu tio, o misto de remorso e culpa que assombra Trudy após a morte de seu pai, John. Enquanto a mãe se declara desesperada, seu futuro padrasto lê com certo entusiasmo as notícias que relatam a morte de John, sobre a qual ainda não se suspeita de assassinato.

As nuances do relacionamento entre os dois são entendidas pelo feto em um processo de aprendizado indireto, secundário, mas ainda assim absolutamente sensível. Como o próprio McEwan disse, a partir do momento em que aceitamos a premissa desse livro, o restante da história está situado no campo do real. O narrador absorve o mundo externo a partir da perspectiva de sua mãe e de novelas e programas de rádio, o que lhe permite análises bastante aguçadas sobre a natureza dos relacionamentos afetivos, sem deixar de lado certa ironia:

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[Resenha] O Mar

Quando o passado oprime o presente e se impõe como único caminho possível para o futuro não resta muita saída a não ser a memória. Em O Mar, do premiado escritor irlandês John Banville, Max Morden é um velho historiador de arte que busca na cidade de veraneio de sua juventude o calmante para a angústia que o abateu desde a morte da esposa, Anna.

Banville imprime na narrativa o ritmo oscilante da memória: de um parágrafo a outro, sem preâmbulos, o leitor passa de observador do adolescente Max a espectador do introspectivo viúvo.

Max refugia-se na mesma casa, hoje transformada em uma pensão, onde conheceu, há muitos anos, os gêmeos Chloe e Myles, filhos do exuberante casal Grace. As diferenças sociais – claramente marcadas pelo fato de Max e seus pais se instalarem em um humilde chalé e os Grace, em uma bela casa de aluguel – não impedem que as crianças estabeleçam uma espécie de amizade, ou melhor, um companheirismo de verão.

A paixão platônica e adolescente que Max nutria pela Sra. Grace foi o que o levou a se aproximar dos gêmeos – eles eram seu passaporte de entrada para a casa e para intimidade daquela família. Logo, esse sentimento, tão intenso quanto efêmero, é esquecido e dá lugar a outra paixão.

A memória que Max desperta remete à formação de sua identidade. À medida que a narrativa avança, fica claro que não são apenas lembranças ao léu. Os fatos que ele recorda marcaram, de maneira incontornável, sua existência.

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[Divã] Listas, desafios e outros métodos de leitura

Desde que embarquei no mundo dos blogs literários, descobri que os hábitos de leitura podem ser incrivelmente diferentes, embora o objetivo pareça ser quase sempre o mesmo: ler mais. A Mari contou, neste mesmo espaço, na semana passada, que sempre lê mais de um livro ao mesmo tempo e divide as leituras por momentos do dia (seu senso de organização é algo a ser estudado, rs).

Fico impressionada, também, com a quantidade de maratonas e desafios que as pessoas se propõe a seguir. É só dar um giro pelos blogs de literatura para perceber que há desafios para todos os tipos: de grandes clássicos a objetivos para a quantidade mensal de livros, passando pela nacionalidade dos personagens ou dos autores, sempre será possível encontrar algo que realmente te instigue a ler mais.

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“Sethe tinha vivido então vinte e oito dias – o trajeto de uma lua inteira – de vida não escrava. (…) Dias de cura, facilidade e conversa de verdade. (…) Todos lhe ensinaram como era acordar de manhã e escolher o que fazer do dia. Foi assim que suportou a espera por Halle. Passo a passo, no 124, na Clareira, junto com os outros, ela recuperou a si mesma. Libertar-se era uma coisa; reclamar a propriedade desse eu libertado era outra.”

 

Toni Morrison em Amada

[Enclausurado] Semana #7

A conspiração entre Claude e Trudy chegou ao fim, mas isso está longe de representar um período de tranquilidade para o narrador, a quem já estamos apegadas. Daqui para frente, o ponto de interrogação em relação ao seu destino fica mais evidente. É a vez de perguntarmos: qual será o destino do feto? Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos, até a página 147.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A cada capítulo de Enclausurado, Ian McEwan nos dá uma nova aula sobre escrita. Pode soar repetitivo para os leitores que estão acompanhando os posts sobre o livro desde o início, mas é difícil não se impressionar com o domínio do autor inglês sobre a linguagem e a forma, que se reflete em descrições de ambientes, sentimentos e sensações que fazem com que a gente se sinta dentro do útero de Trudy.

O décimo primeiro capítulo poderia, sozinho, fundamentar uma aula de literatura. Primeiro, McEwan apresenta o possível resultado do plano de Trudy e Claude, no qual tudo corre bem, como o planejado: o corpo encontrado morto, com evidências de envenenamento; as motivações para o suicídio bem distribuídas pelo automóvel; a falta de entusiasmo da polícia com uma investigação corriqueira. Os elementos para que o assassinato funcione estão lá, mas McEwan não entrega o ouro de bandeja.

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