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[Divã] Pequenos leitores

Comecei a ler cedo. Quase não tenho lembranças da época em que as letras não faziam sentido para mim. Entrei na escola aos três anos de idade, mas antes disso já via minhas irmãs trazerem livros e cadernos de caligrafia para casa. Assim começou meu encantamento com as palavras.

Sempre tive afinidade com gramática, redação e literatura, mas não acho que o hábito da leitura tenha resultado apenas de um processo natural. Exemplo e incentivo foram essenciais nesse caminho.

Meus pais nunca foram grandes leitores e nossa casa não tinha paredes cobertas por livros. A escola, portanto, teve um papel decisivo. Recordo-me com clareza das competições que premiavam quem lesse mais páginas por mês. Comecei a montar minha pequena biblioteca dessa forma. Quanto mais lia, mais chances eu tinha de ganhar aquele título cobiçado da Série Vaga-Lume.

Recentemente, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie lançou o ótimo Para Educar Crianças Feministas, uma livro-manifesto que reproduz a carta da autora a uma amiga, que havia acabado de ser mãe e lhe pedia conselhos para criar a filha como feminista. O livro inteiro traz verdades urgentes e, uma delas, fala sobre a leitura:

Ensine Chizalum a ler. Ensine-lhe o gosto pelos livros. (…) Os livros vão ajudá-la a entender e questionar o mundo, vão ajudá-la a se expressar, vão ajudá-la em tudo o que ela quiser ser – chefs, cientistas, artistas, todo mundo se beneficia das habilidades que a leitura traz. (…) Se nada mais der certo, pague-a para ler. Dê uma recompensa. Sei dessa nigeriana incrível, Angela, uma mãe solo, que estava criando a filha nos Estados Unidos. A menina não gostava de ler, então a mãe decidiu pagar cinco centavos para cada página lida. Mais tarde, ela dizia brincando: “Saiu caro, mas o investimento valeu a pena”.

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“Todo fascista julga estar fazendo o bem. Todo linchador age em nome de princípios nobres. Toda vingança pessoal pode ser elevada a causa política, e quem está do outro lado deixa de ser um indivíduo que erra como qualquer indivíduo, entre meia dúzia de atos entre os milhares praticados ao longo de quarenta e três anos, para se tornar o sintoma vivo de uma injustiça histórica e coletiva baseada em horrores permanentes e imperdoáveis.”

 

Michel Laub em
O Tribunal da Quinta-Feira

 

[O Amor dos Homens Avulsos] Semana #7

Nas últimas páginas, Camilo percorreu os dias finais de Cosme e descreveu, enfim, como foi o assassinato de seu amigo. Ao buscar essas memórias, o personagem também é tomado por uma sede de vingança que o leva a imaginar um crime cruel contra Renato, o neto do assassino de Cosmim, em um trecho em que a escolha pelo amor ou pelo ódio chegou ao seu apogeu. Na próxima semana, encerramos o livro! Foi uma leitura rápida, mas intensa!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Detalhes do assassinato de Cosme são revelados à medida que o narrador trava uma luta interior para decidir o desfecho de sua relação com Renato, o neto do assassino. Na fronteira entre a ternura e o ódio, seus sentimentos se confundem e suas ações ameaçam ir de um extremo a outro – do carinho de um abraço à violência de um assassinato.

A morte repentina e brutal de Cosmim deixa marcas indeléveis em Camilo. Ao relembrar cada passo que levou ao dia fatídico, desde o momento em que o assassino flagra a intimidade do casal até o enterro que atraiu centenas de pessoas superficialmente comovidas, o narrador justifica como o crime o abateu para a vida toda:

O assassinato tomou domínio de mim para o resto da vida. Fui colonizado.

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[Resenha] Salões de Paris

A cidade de Paris e o texto de Marcel Proust são sinônimos de sofisticação. A coletânea de crônicas que revela o lado jornalista do célebre escritor francês encontrou a combinação perfeita de forma e conteúdo nesta luxuosa edição da Carambaia. Salões de Paris reúne 22 textos de Proust, publicados entre o final do século XIX e início do XX, a maioria deles no Le Figaro.

As festas requintadas que atraíam a alta burguesia e a nobreza remanescente da França imperial são o principal tema dessas crônicas. A minuciosidade da prosa proustiana é capaz de transportar o leitor ao salão da princesa Mathilde ou ainda ao ateliê da sra. Madeleine Lemaire.

O escritor não economiza nas adjetivações quando retrata os ambientes, tampouco quando introduz os anfitriões e convidados dessas reuniões. Suas observações são carregadas da postura bajuladora que caracterizou tanto o Proust jornalista, quanto o Proust escritor. Sobre a princesa Mathilde, tia do príncipe Luís Napoleão, ele diz:

Essa rudeza um pouco máscula da princesa se tempera a um extrema doçura que transborda de seus olhos, de seu sorriso, de toda a sua hospitalidade. Mas por que analisar o charme dessa anfitriã? Prefiro tentar fazê-los sentir isso, mostrando a princesa no momento em que recebe.

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[Lista] 5 personagens trabalhadores

Para celebrar o 1º de Maio, comemorado em todo o mundo como Dia do Trabalho, prestamos homenagens a esses personagens que, assim como nós, pobres mortais, precisam enfrentar chefes, horários e as demais pressões da vida laboral.

Trabalhadores do mundo (da literatura), uni-vos!

1. Macabea, de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector: A “delicada e vaga existência” diária de Macabea, a personagem principal desse clássico da literatura brasileira, é preenchida por sua função como datilógrafa, habilidade adquirida em um “curso ralo de como bater à máquina”.

Macabea, uma nordestina de dezenove anos que migrou para o Rio de Janeiro, leva uma vida miserável e sem perspectivas, em um trabalho em que o chefe chega a ameaçar mandá-la embora, mas desiste por sua ingenuidade e delicadeza. Seus dias são preenchidos com pensamentos fantasiosos sobre a infância, a fome e a vontade de ser quem não era.

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