“Sabia pouco, mas pelo menos sabia isto: que ninguém fala pelos outros. Que, mesmo que queiramos contar histórias alheias, terminamos sempre contando nossa própria história.”
Alejandro Zambra em Formas de Voltar para Casa
“Sabia pouco, mas pelo menos sabia isto: que ninguém fala pelos outros. Que, mesmo que queiramos contar histórias alheias, terminamos sempre contando nossa própria história.”
Alejandro Zambra em Formas de Voltar para Casa
Lixo Verdadeiro, primeiro conto de Dicas da Imensidão, de Margaret Atwood, já nos deixou animadas para o restante da leitura. E você, o que achou? Para a próxima semana, leremos o conto Bola de Cabelo, que acaba na página 58.
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
O quanto o contexto social e os julgamentos morais inerentes à convivência em sociedade podem definir o destino de uma pessoa? No conto Lixo Verdadeiro, Atwood levanta essa questão a partir de uma trama que começa com um grupo de jovens e adolescentes e termina, dez anos depois, com revelações que, apesar de esclarecedoras, já não têm poder de mudança sobre as consequências desse passado.
A narrativa começa em um acampamento em que adolescentes abastados passam suas férias e jovens garotas, em sua maioria não tão privilegiadas, trabalham durante o verão para juntar algum dinheiro. Um ambiente de muitos contrastes, não apenas sociais, mas também de idade e gênero.
Quando o olhar lírico do escritor português Valter Hugo Mãe encontra a cultura milenar do Japão antigo, o resultado não poderia ser outro senão uma literatura que alcança o mais alto patamar de forma e conteúdo. Homens Imprudentemente Poéticos é um livro que premia o leitor com a beleza da linguagem, ao mesmo tempo em que, sem perder o ritmo narrativo, extrai os encantos e a fealdade da essência humana.
A história se passa em uma aldeia no Japão e, assim como em seu outro romance A Desumanização, cuja trama foi concebida após uma temporada na Islândia, para este livro, Hugo Mãe também imergiu na cultura local. Mais do que inspiração para lugares e personagens, o escritor soube refletir no romance a sabedoria japonesa, especialmente em relação à morte, à natureza e à felicidade.
O artesão de leques Itaro é “um cúmplice da natureza, um certo intérprete” que expressa toda beleza da fauna e da flora na meticulosidade de suas pinturas. Paradoxalmente a essa sensibilidade, Itaro é um homem abatido pela miséria, não apenas de dinheiro, mas principalmente de ternura. Ele tem o dom de ver o futuro no instante exato da morte dos animais. Suas visões sempre trazem destinos cruéis e ele vive encurralado entre o ímpeto da curiosidade, e portanto da vontade de matar, e o assombro da descoberta.
O oleiro Saburo, vizinho de Itaro, é o oposto do artesão. Um poço de amor, pelo menos até a morte da esposa Fuyu, atacada por uma fera misteriosa vinda da montanha. A tragédia já havia sido anunciada por Itaro e, a despeito das tentativas de Saburo para proteger a amada, o presságio se concretiza e endurece, aos poucos, a alma do oleiro:
A sua vontade apenas queria cuidar do mundo. Mas dormia apoquentado com a solidão e o crescente tamanho do amor. O amor, na perda, era tentacular. Uma criatura a expandir, gorda, gorda, gorda. Até tudo em volta ser esse amor sem mais correspondência, sem companhia, sem cura. Que humilhante a solidão do amante. O oleiro disse assim: que humilhante o coração que sobra. O amor deixado sozinho é uma condição doente.
“A rebeldia de Jaja era como os hibiscos roxos experimentais de Tia Ifeoma: rara, com o cheiro suave da liberdade, uma liberdade diferente daquela que a multidão, brandindo folhas verdes, pediu na Government Square após o golpe. Liberdade para ser, para fazer.”
Chimamanda Ngozi Adichie em Hibisco Roxo
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