Página 47 de 110

[Nossa Senhora do Nilo] Semana #4

Se no trecho anterior vislumbramos a necessidade de apagar a história para impor a narrativa dos colonizadores, nas últimas páginas mergulhamos em uma onírica tentativa de reconstrução de um passado dominado por faraós e deuses. Além disso, enfrentamos a dura realidade de ser mulher em qualquer lugar do mundo, nas narrativas em pílula que, gota a gota, nos ajudam a compor o panorama do dia a dia no liceu. Para a próxima semana, vamos até a página 140.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A história da África, ao contrário do que prega a professora Lydwine, obviamente não começou com a colonização. No trecho que acabamos de ler de Nossa Senhora do Nilo, de Scholastique Mukasonga, mergulhamos em uma onírica tentativa de reconstituir um passado em que reinavam faraós negros. Leia mais

[Resenha] Dias de Abandono

Ler Elena Ferrante é mergulhar no turbilhão de sentimentos, nem sempre virtuosos, tampouco compreensíveis, que compõem a natureza humana. Se nos volumes da tetralogia napolitana a escritora já dá mostras dessa habilidade em trechos esparsos cuja precisão e impacto exigem releitura, em Dias de Abandono são 181 páginas dessa prosa avassaladora. O fôlego narrativo de Ferrante é surpreendente: faz o leitor esquecer seu entorno e o transporta para a caótica intimidade de Olga, uma mulher abandonada pelo marido depois de 15 anos de casamento.

O processo de redescoberta da personagem é central no enredo. Todos os estágios do abandono – dos momentos de lucidez aos de irracionalidade completa – são descritos minuciosamente. A narradora em primeira pessoa potencializa a honestidade do relato. A sensação é de que Olga está logo ao lado, confessando despudoradamente todo seu sofrimento.

Em um primeiro momento, ela se força a manter a calma. Apoiando-se na certeza de que a ruptura com Mario é passageira, Olga leva os dias de maneira desatenta, como se colocasse sua vida em suspenso, apenas aguardando o restabelecimento de sua rotina passada. À medida que o tempo avança, a esperança esmorece e dá lugar a uma mistura de raiva, saudade e obsessão.

Leia mais

[Divã] Leitores ou colecionadores?

Quando a Cosac & Naify anunciou que iria fechar as portas, ficamos tristes por vários motivos. Sentimos como um luto a despedida da editora que, movida pelas paixões do excêntrico Charles Cosac, tinha trazido novos ares para a produção editorial brasileira, com um catálogo que abarcava de clássicos a literatura de vanguarda, passando pelas artes e pela moda, sempre com acabamento impecável.

Mas, para um grupo restrito de leitores, que podemos chamar de colecionadores, o fim da Cosac significou também um futuro de vazios nas estantes. Passariam a ser relíquias as coleções que vínhamos montando há tantos anos, com investimentos consideráveis: Prosa do Mundo, Mulheres Modernistas, Coleção Portátil…

Aproveitamos ao máximo os saldões da Cosac na Amazon e, muito provavelmente, compramos livros em volume suficiente para sustentar a editora por mais um ano, caso Cosac voltasse atrás em sua decisão.

Leia mais

“Apostava-se a vida no que acreditávamos ser maior que a nossa própria vida. Encher de sentido o tempo era, então, mais urgente pois tão passageiro, urgência de marcar o mundo com nossa existência, mesmo que arriscando-nos a torná-la ainda mais breve.”

 

Maria Valéria Rezende em Outros Cantos

[Nossa Senhora do Nilo] Semana #3

Na última leitura, mergulhamos na rotina do liceu Nossa Senhora do Nilo! Nas sutilezas das histórias cotidianas, Scholastique Mukasonga faz um preciso retrato do povo ruandês. Para a próxima semana, avançamos até a página 104.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A educação é uma ferramenta poderosa nas mãos do colonizador – o dia a dia no liceu Nossa Senhora do Nilo não nos deixa mentir:

O sinal tocou outra vez. As aulas iam começar. Francês, matemática, religião, higiene, história-e-geografia, educação física, esporte, inglês, kinyarwanda, costura, francês, culinária, história-e-geografia, física, higiene, matemática, religião, inglês, costura, francês, religião, francês…

Um aspecto chama a atenção nesse trecho: Mukasonga se utiliza do recurso linguístico da repetição para estabelecer um ritmo, especialmente no final, em que fica clara a predominância das aulas de francês e religião na grade curricular das alunas. Enquanto o idioma local – o kinyarwanda – tem um espaço tímido na programação, o francês se impõe como a língua a ser aprendida e a religião, como assunto a ser priorizado. Quando pensamos na história de colonização do nosso país e dos nossos vizinhos na América, vemos que as coisas não foram tão diferentes por aqui, não é?

Leia mais

< Posts mais antigos Posts mais recentes >

© 2025 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑