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“Não conseguimos viver sem uma telinha. Eu não vou ao banheiro sem o celular. É o terror ao silêncio.”

A Uruguaia, de Pedro Mairal


“We can’t live without screens. I always take my cellphone to the bathroom. It’s the fear of silence.”

La Uruguaya, by Pedro Mairal

[Resenha] A Canção de Solomon, de Toni Morrison / [Review] Song of Solomon

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A Canção de Solomon (1977) foi publicado dez anos antes da obra-prima de Toni Morrison, Beloved (1987). Em dez anos, a autora ganhadora do prêmio Nobel não apenas aperfeiçoa sua linguagem poética, que se alimenta, principalmente, dos ritmos da fala e da canção afro-americana, mas também reforça a escrita vanguardista e poderosa que a estabeleceu como a principal voz da identidade negra na América no século XX.

O romance conta a história de Macon “Milkman” Dead III, filho de um bem-sucedido empresário negro da região Norte dos Estados Unidos. Milkman nasceu exatamente no mesmo dia em que um vizinho excêntrico se atirou do telhado em uma tentativa fracassada de voar. Além desse fato peculiar em sua data de nascimento, Macon também carrega um apelido esquisito, Milkman, que surgiu do fato de ele ter sido amamentado por sua mãe até uma idade bastante avançada.

Embora esse rápido resumo não cubra todos os meandros da narrativa de Morrison, ele evidencia dois elementos fundamentais que se entrelaçam no romance: o ato de voar como um símbolo da liberdade e o nome de uma pessoa como um ponto de partida para a busca da identidade.

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[Resenha] Se a Rua Beale Falasse, de James Baldwin

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James Baldwin escreveu este clássico da literatura americana em 1974, mas a trama de Se a Rua Beale Falasse (Companhia das Letras, 224 páginas) ainda é uma realidade incômoda: Fonny é um jovem negro preso em função de uma falsa acusação de estupro, o que leva sua namorada, Tish, a engajar toda sua família na luta pela liberdade do noivo, ao mesmo tempo em que tem que reunir forças para levar adiante sua gravidez. 

O racismo institucionalizado na sociedade americana, mesmo em uma cidade cosmopolita como  Nova York, é o pano de fundo desse romance, do qual emergem muitas de suas qualidades. Baldwin trata, em sua narrativa, das muitas injustiças a que são submetidas as populações mais vulneráveis de uma cidade com a qual tinha uma relação de amor e ódio. Sobre algumas, ele não se aprofunda, mas nos faz entrever um buraco fundo. Um exemplo é o sistema prisional. Sabemos pelas visitas de Tish que a prisão terá efeitos indeléveis sobre Fonny, mas nunca ultrapassamos as barreiras de vidro interpostas entre o casal.

Ao tangenciar injustiças sistêmicas, Baldwin escancara um abismo muito mais profundo, o que distancia os jovens de seus sonhos e de seu potencial. O sonho americano é um privilégio de poucos – certamente não ao alcance de Tish e Fonny. Os dois se conheceram ainda bastante jovens, vizinhos no Harlem, um bairro habitado majoritariamente pela população negra. Enquanto a família de Tish é bem estruturada, Fonny tem que lidar com a aversão da mãe, que prefere as duas filhas mais novas, de pele mais clara. A desigualdade, na experiência pessoal de Baldwin, começa em casa e dali se prolonga para a rua. 

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[Resenha] Thérèse Raquin, de Émile Zola

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Possuía um sangue-frio insuperável, uma tranquilidade aparente que mascarava terríveis exaltações.

Essa é Thérèse Raquin (Penguin Books, 240 páginas), protagonista do romance homônimo de Émile Zola. Uma jovem que sofre de uma existência monótona: divide seus dias entre um casamento infeliz com o primo doente, Camille, e o trabalho na loja da sogra, situada numa passagem obscura de Pont-Neuf, em Paris.

Os traços rígidos e o semblante impenetrável de Thérèse escondem um temperamento dominado pelos nervos. Quando seu destino se cruza com o do impulsivo Laurent, amigo do seu marido, o resultado é explosivo e trágico.

Os desejos carnais levam a dupla ao adultério. O desejo de liberdade leva-os ao assassinato de Camille. Nasce, então, um remorso corrosivo que, segundo Zola, no prefácio da segunda edição do romance, se relaciona mais com uma disfunção no sistema nervoso que com questões da alma:

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