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[Resenha] Não Me Abandone Jamais

Em outubro, a Academia Sueca anunciou o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura por “seus romances de grande força emocional, que revelaram o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo”. Se acertaram ou não no prêmio, é uma questão polêmica, mas não há dúvidas de que definiram com acurácia sua obra.

Não Me Abandone Jamais conta a história de três amigos de infância, Kath (a narradora), Ruth e Tommy. Eles cresceram em Hailsham, uma espécie de internato, que, à primeira vista, parece um colégio comum, mas, na verdade, esconde vários mistérios. Aquelas crianças têm algo de especial, que só é revelado a elas, e aos leitores, à medida que a história avança.

Nesse sentido, a narrativa de Ishiguro é um tanto enfadonha. Apenas por volta da página 100, o primeiro grande enigma é revelado. E, diferente de outras obras em que os silêncios e as insinuações formam um sofisticado enredo, nesse caso, não há um quebra-cabeça desafiador, que envolve o leitor. Por vezes, parece que existem apenas pontas soltas e nenhum fio condutor.

Outro aspecto que desabona o texto de Ishiguro é a artificialidade com que ele insiste em organizar as lembranças da narradora. Grandes escritores já se destacaram pela habilidade com que trabalham a memória. No entanto, não é essa destreza que o texto de Ishiguro transparece. Em vez de dar vazão aos fluxos de memória da personagem e encontrar o brilho de sua literatura nesse caos, o autor opta pelo caminho mais seguro e menos original da ordem cronológica. Não são poucos os trechos em que ele lança mão de deixas como esta:

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[Lista] 20 melhores leituras do ano para sua lista de presentes (parte 2)

Como prometido pela Mari na semana passada, continuamos a listar as melhores leituras do ano, todas ótimas dicas de presente para este Natal (confira a primeira parte da lista aqui)! De lançamentos a livros que já estavam na estante, essas leituras nos levam a um passeio guiado pelos prédios do centro de São Paulo, pela dura Brasília tomada pela ditadura militar, por Nápoles e até mesmo ao útero de uma mulher grávida! 

Aproveitou nossas indicações? Não deixe de compartilhar conosco aqui nos comentários!

1. O Tribunal da Quinta-Feira, de Michel Laub: Terceiro livro de uma trilogia sobre a capacidade de adaptação individual a traumas coletivos, este romance de Michel Laub explora o verdadeiro tribunal encenado cotidianamente nas redes sociais e fóruns virtuais. José Victor, um publicitário de 43 anos, recém-divorciado, que vê boa parte de suas conversas eletrônicas com o melhor amigo expostas na internet de forma parcial e inescrupulosa, tem de lidar com esse vazamento e, principalmente, com a sombra da doença que marcou a sua geração, a AIDS. Na linguagem arrebatadora de Laub, esse foi um dos grandes achados de 2017. Veja a resenha completa aqui.

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“Assim como ninguém lhe ensinaria um dia a morrer: na certa morreria um dia como se antes tivesse estudado de cor a representação do papel de estrela. Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um e é quando como no canto coral se ouvem agudos sibilantes.”

 

Clarice Lispector em A Hora da Estrela

[Laços] Semana #6

A leitura de Laços, de Domenico Starnone, continua a nos surpreender por sua intensidade. No último trecho, vemos que de fato um relacionamento tão fraturado quanto o de Aldo e Vanda só pode ser remendado superficialmente. Na próxima semana, nos despedirmos deste pequeno grande livro! Está acompanhando a leitura com a gente? Então não deixe de compartilhar suas impressões aqui com a gente!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Com alguns amigos que também estão acompanhando a leitura conosco, discutimos recentemente sobre a opção de Starnone pela primeira pessoa para a condução da narrativa em Laços.

Em um primeiro momento, somos tomados por uma angústia colérica a partir do ponto de vista de Vanda, que escreve cartas para o marido no período de cinco anos em que eles ficaram afastados.

Quando Aldo assume a condução da narrativa, esperamos de certa forma que ele se contraponha ao que acabamos de ler, que reaja, que mostre até que ponto podemos enlouquecer quando tomados pela dor da traição.

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[Resenha] A Noite da Espera

A folha de rosto de A Noite da Espera, novo romance de Milton Hatoum que chega às livrarias pela Companhia das Letras, traz o seguinte verso do poeta sírio Adonis:

A solidão é a tinta da viagem.

Martim, o jovem narrador desse romance, primeira parte da trilogia O Lugar Mais Sombrio, descobrirá essa verdade rapidamente. Depois da separação dos pais, é levado a se mudar para Brasília na companhia do pai. Deixando o ambiente que lhe é familiar, a capital recém-criada, ainda quase vazia e marcada pela tensão do golpe militar de 64, é um reflexo do cotidiano que Martim enfrenta em casa: a aridez da figura paterna acentua a distância da mãe que dá notícias apenas esporadicamente, a partir de um sítio escondido do qual se sabe muito pouco.

Na contracapa desta edição, que recebemos autografada por Hatoum (pulinhos de alegria!), a crítica literária Leyla Perrone-Moisés comenta que da multidão de escreventes que temos hoje, poucos merecem o título de escritor, qualificativo que ela atribui ao escritor amazonense. Sem dúvidas, Hatoum é uma das mais potentes vozes no cenário literário brasileiro, capaz de se reinventar a cada novo romance.

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