Página 32 de 110

O Corvo

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: “Nunca mais”.

 

Edgar Allan Poe em O Corvo

[O Retrato de Dorian Gray] Semana #3

Na leitura desta semana, Lord Henry se aproxima ainda mais de Dorian Gray e Wilde nos brinda com boas reflexões sobre o poder, para o bem ou para o mal, da influência. Para a próxima semana, avançamos mais dois capítulos (5 e 6) na leitura de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, até a página 87 se você tem a edição da foto, da Penguin-Companhia das Letras.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Lord Henry não mede esforços para se acercar a Dorian Gray e saber mais detalhes de sua história. Com um velho tio, ele descobre que a mãe do belo jovem havia sido uma moça também exuberante e de posses, que se apaixonara por um homem pobre a quem o pai não aprovava. O romance não terminou nada bem e o pequeno Dorian logo ficou órfão, sob a tutela de um avô amargurado.

Todas as informações que pudesse obter eram valiosíssimas para que Lord Henry colocasse em ação o seu plano: fazer com que Dorian ficasse tão hipnotizado por ele quanto Hallward havia ficado pelo jovem.

Ele não poupava esforços para frequentar os mesmos lugares que seu alvo e encantá-lo com conversas sobre o estilo de vida hedônico, e bastante egoísta, que orgulhosamente ele levava: Leia mais

[Resenha] O Deus das Pequenas Coisas

O Deus das Pequenas Coisas, da indiana Arundhati Roy (Companhia de Bolso, 352 páginas), poderia ser descrito como um livro sobre a relação quase siamesa entre irmãos gêmeos. Ou sobre a Casa Ayenemen, um lugar em que realidade e imaginação se misturam de forma fluída. Mas a melhor definição é da própria autora: essa é uma obra sobre as leis que determinam “quem deve ser amado, e como. E quanto”.

O livro tem como ponto de partida o retorno de Rahel, uma das metades do casal de gêmeos bivitelinos que protagoniza a narrativa, para a cidade em que nasceu, após um longo tempo distante da Índia. Essa volta é significativa porque é a partir dos fragmentos da história que persistem em móveis, objetos e paredes de sua antiga casa que a escritora nos guiará até o dia fatídico em que tudo mudou. Logo na primeira página, Arundhati Roy nos encanta com seu poder descritivo, sua capacidade de criar imagens fortes e vívidas, nos deixando familiarizados com o ambiente que ela busca retratar:

Maio em Ayemenem é um mês quente, parado. Os dias são longos e úmidos. O rio encolhe, e corvos pretos se banqueteiam com belas mangas em árvores imóveis, verde-empoeiradas. Bananas vermelhas amadurecem. Jacas explodem. Varejeiras dissolutas zunem vagabundas no ar perfumado. Depois se estatelam contra vidraças transparentes e morrem, totalmente enganas, ao sol. (…) Mas no começo de junho irrompe a monção sudoeste, e vem três meses de vento e água com curtos intervalos de sol duro e brilhante em que crianças excitadas aproveitam pra brincar.

Leia mais

[Divã] Literatura além dos livros

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Será que a arte segue a máxima de Lavoisier? Recentemente, tive uma ótima (e produtiva!) discussão entre amigos sobre esse tema, e resolvi trazê-lo para o blog.

Quantas adaptações – musicais, cinema, teatro – você já viu de Os Miseráveis, de Victor Hugo? E de Romeu e Julieta? Quais histórias habitam tanto a sua estante de livros quanto sua prateleira de DVDs? O intercâmbio entre a literatura e outras formas de arte não é incomum. Embora os resultados nem sempre sejam satisfatórios (sou do time que sempre prefere o livro), há diversas adaptações bem-sucedidas.

Quando falamos de cinema, e ainda mais de televisão, essa troca desempenha um importante papel na popularização de obras literárias e no incentivo à leitura. No entanto, alguns limites têm que ser observados, para que a referência não se perca em algum momento. Afinal, é tênue e bastante delicada a linha que separa as releituras dos plágios.

Leia mais

ausência

tenho te escrito com calma
cartas em um caderno azul
arranco da espiral e não posto
por preguiça ou nem morta
tenho medo da espera
durante dias ou semanas um animal horrível
(espécie de raposa) vai me perseguir
por dentro, ou serei eu mesma
(um rato?) a me roer
enquanto a resposta não chega
perco muito tempo tentando
dar nomes aos bichos
que sobem a cortina do quarto

 

Alice Sant’Anna em Rabo de Baleia

< Posts mais antigos Posts mais recentes >

© 2025 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑