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Aula de português

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

 

Carlos Drummond de Andrade

[Canção de Ninar] Semana #5

No último trecho de Canção de Ninar, Slimani nos forneceu uma visão mais próxima da vida íntima de Louise e deu seu passado, em um relato bastante solitário. De forma hábil, a escritora continua a construir as pegadas de uma tragédia e está difícil conter a ansiedade para não terminar o livro! Está acompanhando conosco? Para a próxima semana, avançamos até a página 119, ou capítulo 23.

Mariane Domingos e Tainara Machado

A relação de dependência entre Louise e a família ganha contornos mais nítidos à medida que a autora nos fornece um retrato mais próximo do cotidiano solitário da babá e de seu passado ao lado do marido e da filha.

Depois da viagem à Grécia, Louise retorna para seu apartamento, dominada por uma sensação de asfixia:

Quando abre a porta de seu apartamento, suas mãos começam a tremer. Tem vontade de rasgar a capa do sofá, dar um soco no vidro da janela. Um magma informe, uma dor queima suas entranhas, e é difícil para ela não gritar.

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[Lista] 5 autores para comemorar a literatura lusófona

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No próximo sábado, 5 de maio, comemora-se o Dia da Língua Portuguesa. A comunidade lusófona é formada por 9 Estados (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) – uma diversidade de sotaques e culturas que faz nosso idioma ainda mais rico.

Para celebrar a data, preparamos uma lista com cinco escritores de língua portuguesa, que se destacam por elevar nosso idioma a outro patamar a partir da literatura.

São autores que nos deixam felizes por termos o português como língua materna, pois assim podemos lê-los no original e apreciar cada significado de sua escrita.

1. Clarice Lispector: uma literatura que escancara a alma humana e desafia os limites da linguagem. Lispector é o perfeito equilíbrio entre forma e conteúdo. Em suas mãos, as palavras estão a serviço do mais nobre propósito: a busca pela essência das coisas. Neste trecho de A Paixão Segundo G.H., essa árdua missão é brilhantemente descrita:

O nome é um acréscimo e impede o contato com a coisa. O nome da coisa é um intervalo para a coisa. A vontade do acréscimo é grande – porque a coisa nua é tão tediosa.

2. João Guimarães Rosa: se tem algo difícil de imaginar é uma obra de Guimarães Rosa traduzida. O mineiro, nascido em Cordisburgo, reinventou a língua portuguesa com a genialidade de sua literatura.

Carlos Drummond de Andrade, outro dos nossos gênios, até tentou desvendar seus segredos no poema Um Chamado João:

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“É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus  amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.”

 

Geovani Martins em O Sol na Cabeça

[Canção de Ninar] Semana #4

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O limite tênue que separa o pessoal do profissional e a invisibilidade social de algumas classes trabalhadoras foram os temas centrais no último trecho lido. Onde parecia haver apenas perfeição começam a surgir fragilidades e tensões preocupantes. Para a próxima semana, avançamos até a página 98, ou capítulo 20.

Mariane Domingos e Tainara Machado

O jantar na casa de Myriam e Paul, para o qual Louise é convidada, é um episódio emblemático. A partir de cenas e diálogos sutis, a autora Leïla Slimani carrega a narrativa de significados sociais.

A insistência dos patrões para que a babá participe da celebração, não apenas como cozinheira, mas como convidada, parece, à primeira vista, uma grande gentileza, uma boa forma de reconhecimento. Não demora muito, no entanto, para que o leitor se coloque na pele de Louise e perceba a farsa. A tentativa do casal de incluí-la soa forçada e busca muito mais apaziguar a consciência dos dois, que de algum modo sabiam que a subvalorizavam, do que realmente reconhecer o trabalho da babá. Louise não se sente à vontade, porque, a despeito do clima de festa e de sua condição de “convidada”, aquele ambiente, em nenhum momento, deixou de ser seu ambiente de trabalho:

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