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[Canção de Ninar] Semana #9

Chegamos ao fim de mais um Clube do Livro do Achados & Lidos! E aí, o que achou deste romance da franco-marroquina Leïla Slimani, Canção de Ninar? Animados com a vinda dela para a Flip deste ano? Na próxima semana, publicaremos, aqui no blog, as impressões dos nossos leitores! Mande sua opinião para nós no e-mail blogachadoselidos@gmail.com ou aqui nos comentários!

Mariane Domingos e Tainara Machado

Por fim, toda escuridão que vinha tomando conta de Louise explode no ato nefasto do início do livro. A babá já não é mais capaz de suportar o peso de sua existência solitária, nem a realidade opressora que a rodeia. Quando se vê encurralada, sem nenhuma perspectiva, ela reage da pior forma, silenciando, com violência, aquele mundo no qual ela não se sente mais acolhida.

Embora Slimani construa uma personagem que, claramente, tem sérios problemas psicológicos, é interessante notar como a autora não deixa escapar o quanto o contexto social contribui para moldar o comportamento humano. Louise é o ponto extremo a que uma situação de injustiça e desigualdade em diversos aspectos pode levar.  

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[Resenha] O Leopardo

Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude.

A emblemática frase de O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (TAG Livros/Companhia das Letras, 381 páginas), resume com exatidão a sensação de resignação que nos devora quando somos confrontados com grandes mudanças. Não à toa, é um dos aforismo mais conhecidos da literatura.

Dita por Tancredi, sobrinho de Fabrizio de Corbèra, príncipe de Salina e personagem central neste romance, a frase indica a inevitabilidade das transformações que marcariam a Itália na segunda metade do século XIX. O Leopardo retrata justamente esse meio século de profundas alterações no cenário econômico, político e social do país, com a unificação da Itália, até então dividida em reinos sob  o domínio de potências estrangeiras, a ascensão da burguesia e o ocaso da nobreza.

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[Lista] 5 livros para viajar à Rússia

Estamos a quase 15 dias da Copa do Mundo da Rússia! Esse país de dimensões continentais estará, mais do que nunca, sob os holofotes. Embora a expectativa seja ver todo burburinho de perto, a realidade que nos resta é acompanhar tudo do sofá de casa mesmo, rs. Aos jogos, podemos assistir pela televisão. E o turismo?! Bem, esse podemos dar um jeitinho com a literatura! Separamos cinco livros, para você mergulhar na cultura russa e viajar sem sair de casa.

1. A Dama do Cachorrinho e outros contos: gosta de narrativas curtas? Então, vamos começar com um dos maiores contistas de todos os tempos: o russo Anton Pavlovitch Tchekhov.

Com textos breves e sugestivos, que exploram com habilidade os silêncios, Tchekhov traz para ficção os raros instantes extraordinários da vida comum. Seus personagens, em sua maioria, carregam o desencanto que é estar no mundo. A partir de episódios aparentemente banais, em que o não-dito predomina, suas histórias lançam um olhar crítico sobre o comportamento humano.

Um bom exemplo é o conto Um Conhecido. Nessa narrativa de menos de cinco páginas, a “encantadora Vanda”, uma dançarina de clubes noturnos, se vê em situação de penúria, doente e na miséria. Ela decide, então, procurar um dos seus antigos clientes para emprestar-lhe dinheiro. O “conhecido” não apenas não a reconhece como ainda a trata com desdém:

Saindo para a rua, sentiu uma vergonha ainda maior que antes, mas não era mais da pobreza que se envergonhava. Não reparava mais em que não estava usando chapéu alto e casaquinho da moda. Caminhou pela rua, cuspindo sangue, e cada cusparada vermelha falava-lhe de sua vida, uma vida má, difícil, e das ofensas, que havia suportado e ainda haveria de suportar, no dia seguinte e dentro de uma semana, dentro de um ano, durante toda a vida, até a morte….

Que escrita poderosa, não? Nessa coletânea da Editora 34, estão 36 dos melhores contos de Tcheckhov, traduzidos diretamente do russo por Boris Schnaiderman.

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Foi à mesa que a mulher do médico expôs o seu pensamento, Chegou a altura de decidirmos o que devemos fazer, estou convencida de que toda a gente está cega, pelo menos comportavam-se como tal as pessoas que vi até agora, não há água, não há electricidade, não há abastecimentos de nenhuma espécie, encontramo-nos no caos, o caos autêntico deve de ser isto, Haverá um governo, disse o primeiro cego, Não creio, mas, no caso de o haver, será um governo de cegos a quererem governar cegos, isto é, o nada a pretender organizar o nada, Então não há futuro, disse o velho da venda preta, Não sei se haverá futuro, do que agora se trata é de saber como poderemos viver neste presente, Sem futuro, o presente não serve para nada, é como se não existisse, Pode ser que a humanidade venha a conseguir viver sem olhos, mas então deixará de ser humanidade, o resultado está à vista, qual de nós se considerará ainda tão humano como antes cria ser.”

 

José Saramago em Ensaio sobre a Cegueira

[Canção de Ninar] Semana #8

Reta final da leitura de Canção de Ninar! A relação entre a babá e os patrões está cada vez mais insustentável, e os impulsos de Louise, cada vez mais evidentes. Depois de começar o romance pelo fim, com um desfecho para lá de trágico, o que será que Slimani ainda nos reserva para os últimos capítulos? Na próxima semana, terminamos essa leitura!

Mariane Domingos e Tainara Machado

O episódio da carcaça de frango estragada, que Louise deu para Mila comer, foi a gota d’água para Myriam. Nessa obsessão da babá por evitar desperdícios, a mãe percebe que aquela Louise, de aparência tão moderada, fala mansa e gestos calmos, é capaz de chegar aos extremos.

Apesar de ficar assustada, Myriam não tem uma conversa franca com a babá, principalmente porque tem receio de perdê-la agora. Isso estragaria seus planos e sua rotina. Ela decide, junto com o marido, esperar mais um pouco até poder colocar o filho mais novo também na escola.

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