Página 14 de 110

[Resenha] Meu Livro Violeta

No último mês, o autor inglês Ian McEwan completou 70 anos. Para comemorar a data, a Companhia das Letras publicou, em edições primorosas, duas obras inéditas do autor.

Meu Livro Violeta (Companhia das Letras, 125 páginas) é uma dessas publicações. Ela reúne duas breves histórias que comprovam que o talento do britânico cabe tanto em narrativas curtas quanto longas. Para quem já conhece a escrita de McEwan, é leitura para aumentar a admiração pela versatilidade do autor. Quem ainda não teve contato com sua literatura, é uma ótima oportunidade para engatar os romances mais famosos, como Reparação e Enclausurado.

O primeiro conto, que intitula o livro, foi originalmente publicado na seção de ficção da revista The New Yorker, em 2016 (nesse post, há inclusive o áudio do autor lendo a história). A narrativa, conduzida em primeira pessoa pelo personagem Parker Sparrow, revela duas grandes marcas da escrita de McEwan: a ironia e o humor negro, tipicamente britânicos.

Logo no início, o narrador avisa que seu relato se trata de uma espécie de confissão de um crime, do qual, ao que parece, ele não se orgulha, tampouco se arrepende:

Leia mais

[Divã] Quem tem medo de falar de racismo?

Enquanto o mundo assistia embasbacado à atuação do jovem Kylian Mbappé na vitória da França sobre a Argentina, em um jogo que classificou os franceses para as quartas-de-final da Copa do Mundo da Rússia, o youtuber brasileiro Júlio Cocielo proferia uma “piada” absurdamente racista em seu Twitter: para ele, Mbappé “conseguiria fazer uns arrastão top na praia”.

O post gerou furor na internet, mas houve quem defendesse Cocielo: para uma parte de seus fãs, foi apenas uma brincadeira, já que Cocielo tem “bom coração”. Desde então, ele apagou impressionantes 50 mil tweets, não antes que milhares de prints com afirmações homofóbicas e racistas viessem à tona.

Mbappé é um atleta jovem, forte e extremamente talentoso. Comparar a rapidez de suas arrancadas ao potencial de “arrastão” é de um racismo perverso, mas defender o youtuber e afirmar que essa foi apenas uma brincadeira é bastante sintomático do racismo que se esconde nos meandros da sociedade brasileira. É pouco provável que Cocielo dissesse que Cristiano Ronaldo faria arrastões top na praia.

Em seu novo livro, Quem Tem Medo do Feminismo Negro (Companhia das Letras, 145 páginas, R$ 29,90)  Djamila Ribeiro é clara sobre o papel do humor na perpetuação do racismo.

É preciso perceber que o humor não é isento, carregando consigo o discurso do racismo, do machismo, da homofobia, da lesbofobia, da transfobia. Diante de tantos humoristas reprodutores de opressão, legitimadores da ordem, fico com a definição do brilhante Henfil: “O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime”.

Leia mais

“Vou lhe dizer um grande segredo, meu caro. Não espere o juízo final. Ele acontece todos os dias.”

 

Albert Camus em A Queda

[O Mestre e Margarida] Semana #3

Quem apostava em um romance de muita reflexão e pouca ação se surpreendeu na leitura da última semana! Para a próxima sexta, avançamos até a página 90 (capítulo 8).

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A morte horrível de Berlioz acelerou o enredo de O Mestre e Margarida. Decapitado por um bonde em alta velocidade, o fim do editor foi ainda mais macabro, porque o Diabo, na figura do estrangeiro intrometido, havia premeditado alguns detalhes da tragédia minutos antes.

O acidente ocorre justamente quando os dois amigos tentavam se livrar da companhia, cada vez mais inconveniente e assustadora, do professor. Quando os amigos começam a questionar a veracidade da história que acaba de narrar, sobre a condenação de Jesus, ele revela que seu relato é cheio de certeza, porque ele havia presenciado o episódio:

– O caso é que… – daí o professor lançou um olhar temeroso ao redor e passou a falar aos sussurros – eu presenciei tudo isso em pessoa. Estive no balcão com Pôncio Pilatos, no jardim, quando ele falou com Caifás, e no tablado, só que em segredo, incógnito, como dizem, então lhes peço que não digam palavra a ninguém, e guardem o mais absoluto segredo! Psiu!

Leia mais

[Resenha] A Viagem do Elefante

Em 1551, o rei português dom João III, e sua mulher, Catarina d’Áustria, decidiram oferecer um presente inusitado ao arquiduque Maximiliano II, por seu casamento com a filha do imperador Carlos V: um elefante.

A história real do mamífero que saiu de Goa, passou por Portugal, Espanha, Itália, atravessou os Alpes para enfim chegar na Áustria ganha ares de fábula nas mãos de José Saramago, em A Viagem do Elefante (Companhia das Letras, 260 páginas).

Confesso que o enredo, normalmente, não atrairia minha atenção, mesmo sendo uma obra do consagrado autor português, de quem gosto muito, embora ele tenha aparecido pouco aqui no blog. Mas, em um aeroporto, acabei seduzida pela caligrafia de Wagner Moura, que assinou a capa para a edição especial vendida exclusivamente pela Livraria Saraiva.

Leia mais

< Posts mais antigos Posts mais recentes >

© 2024 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑