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Lemos, gostamos (ou não) e indicamos (ou não). Aqui, colocamos nossas impressões sobre livros que, de alguma forma, nos marcaram. Tem opinião, mas não tem spoiler!

[Resenha] Sepulcros de Vaqueiros

Sepulcros de Vaqueros (Alfaguara, 196 páginas, ainda sem tradução para o português) é um deleite para os leitores iniciados na obra do chileno Roberto Bolaño. Com várias referências a outras produções do escritor, as três histórias que compõem essa publicação póstuma – PatriaSepulcros de Vaqueros e Comedia del Horror de Francia – datam dos anos 90 e 2000.

Todas trazem temas caros à escrita de Bolaño – a violência, a ditadura chilena, a América Latina, a juventude, a literatura e a ficção científica. A resistência aos finais definitivos, característica marcante em seus romances, ganha ainda mais força nessas narrativas curtas.

Por serem textos que, provavelmente, ficaram sem conclusão ou foram aprimorados posteriormente em obras de maior fôlego, nas três histórias dessa coletânea, é possível assistir aos bastidores da escrita de um grande autor. Nessas narrativas, embora não se encontre o crème de la crème de sua literatura, desfruta-se um Bolaño mais livre e não menos genial.

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[Resenha] Fugitiva

Não espere finais felizes dos oito contos reunidos em Fugitiva, uma das coletâneas de textos de Alice Munro. Em suas histórias, a canadense, ganhadora do Prêmio Nobel em 2013, não procura desfechos grandiosos, arrebatadores. A vida, ela nos ensina, é o cotidiano e o banal, e fugir nem sempre é possível.

Embora adore o gênero – enquanto estava lendo Munro, escrevi uma lista com cinco contos que considero imperdíveis -, acho particularmente difícil resenhá-lo. Há nessas coletâneas uma multiplicidade de vozes e temas que nem sempre permitem generalizações.

Os contos em Fugitiva, porém, têm, além das mulheres como protagonistas, alguns pontos de convergência. A inescapabilidade do destino – ou até mais do que isso, a força do acaso, que por vezes assume até um ar místico – é algo recorrente em suas histórias.

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[Resenha] Bel-Ami

Bel-Ami (Estação Liberdade, 368 páginas), obra mais conhecida do escritor francês Guy de Maupassant, tem tudo que um bom romance exige. O enredo é envolvente, os personagens passam longe da superficialidade e o estilo é fiel à sofisticação da literatura francesa. Não é difícil entender por que o livro continua conquistando leitores 133 anos após a sua publicação.

A história é centrada no sedutor George Duroy, cujo apelido, especialmente entre as mulheres, é Bel-Ami (“belo amigo”). Filho de camponeses e suboficial devolvido à vida civil, Duroy é mais um rapaz pobre tentando a vida em Paris no final do século XIX.

Depois de reencontrar um camarada de regimento, sua sorte começa a mudar. Charles Forestier, redator no jornal La Vie Française, é o responsável por tirar Duroy de um emprego mal remunerado em uma companhia férrea e introduzi-lo no meio jornalístico.

Dono de uma beleza incontestável, bem representada em seu bigode característico e sedutor, Duroy se dá conta, assim que começa a frequentar o círculo de amigos de Forestier, do quanto seu charme pode acelerar seus planos de ascensão social:

Então Forestier começa a rir: – Diga então, meu amigo, você sabe que realmente faz sucesso entre as mulheres? É preciso cuidar disso. Isso pode levá-lo longe. – Ele se cala um segundo, depois retoma, com um tom sonhador de quem pensa em voz alta: – Ainda é por elas que se chega lá mais rápido.  

Duroy não hesita em seguir esses conselhos. Sua primeira vítima é uma amiga da esposa de Forestier, Clotilde de Marelle. As ausências frequentes do marido, por causa do trabalho, facilitam o envolvimento amoroso da Sra. de Marelle com Duroy. Nesse período, o Bel-Ami ainda está se firmando no jornal e seus rendimentos não são suficientes para bancar as extravagâncias da nova vida. Não são poucas as vezes que Clotilde o socorre financeiramente. Embora se faça de rogado, Duroy sempre acaba aceitando a ajuda da amante.

As personagens femininas do romance de Maupassant desempenham um papel tão central quanto o de Duroy na história. Se, por um lado, elas são vistas como pouco confiáveis, interesseiras e tolas, como a Sra. de Marelle, que não hesita em trair o marido e cair na conversa do Bel-Ami, por outro lado, a invisibilidade social da mulher também é abordada.

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[Resenha] O Leopardo

Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude.

A emblemática frase de O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (TAG Livros/Companhia das Letras, 381 páginas), resume com exatidão a sensação de resignação que nos devora quando somos confrontados com grandes mudanças. Não à toa, é um dos aforismo mais conhecidos da literatura.

Dita por Tancredi, sobrinho de Fabrizio de Corbèra, príncipe de Salina e personagem central neste romance, a frase indica a inevitabilidade das transformações que marcariam a Itália na segunda metade do século XIX. O Leopardo retrata justamente esse meio século de profundas alterações no cenário econômico, político e social do país, com a unificação da Itália, até então dividida em reinos sob  o domínio de potências estrangeiras, a ascensão da burguesia e o ocaso da nobreza.

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[Resenha] Coisas Que Não Quero Saber

Em Coisas Que Não Quero Saber, a sul-africana Deborah Levy transforma relatos autobiográficos em ensaios e constrói uma breve narrativa sobre o poder libertador da escrita. Quatro textos, organizados a partir do ensaio Por Que Escrevo, de George Orwell, trazem à tona três momentos cruciais da vida da escritora. As memórias que Levy passou décadas tentando afastar afloram em sua escrita, instigada, sobretudo, pelas perguntas:

“O que fazemos com o conhecimento com o qual não suportamos conviver? O que fazemos com as coisas que não queremos saber?”

O primeiro ensaio contextualiza essa autoinvestigação a que Levy se propõe. Após uma crise de choro nas escadas rolantes do trem de Londres, ela decide, abruptamente, fazer uma viagem a um lugar ermo de Maiorca. Durante essa escapada, um encontro fortuito a faz voltar às suas origens e encarar algumas lembranças difíceis.

Levy nasceu na África do Sul da época do Apartheid. Ela tinha apenas cinco anos quando assistiu, em sua própria casa, à prisão do pai, perseguido por ser membro do partido social-democrata African National Congress e atuar contra o regime segregacionista. Passam-se quatro anos até que ela e o irmão voltem a vê-lo.

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