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Lemos, gostamos (ou não) e indicamos (ou não). Aqui, colocamos nossas impressões sobre livros que, de alguma forma, nos marcaram. Tem opinião, mas não tem spoiler!

[Resenha] Amiga de Juventude

A canadense Alice Munro é a rainha da narrativa breve. Não à toa, ela foi a primeira escritora dedicada exclusivamente a esse gênero a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, em 2013. A precisão de sua linguagem e a construção de ótimos personagens, em sua maioria figuras femininas, garantem aos seus contos a profundidade de grandes romances.

Amiga de Juventude (Globo Livros – Biblioteca Azul, 303 páginas) reúne dez narrativas publicadas em 1990. Nessas breves histórias, ela dá vida a mulheres cujas personalidades, em algum momento, entram em choque com seu meio social, desencadeando instantes de liberdade tão fugazes quanto decisivos

O destino dessas personagens é nebuloso, sempre nas entrelinhas, e é justamente essa condição que torna as histórias ainda mais envolventes. O leitor se deixa levar pela busca, às vezes inconsciente, empreendida por essas mulheres, e acaba em tramas marcadas por paixão, violência ou fantasmas da memória.

Munro sabe trabalhar muito bem a tensão do elemento surpresa. Embora sua escrita tenha um ritmo sereno, quem já conhece a obra da autora não se deixa enganar pela calmaria e logo enxerga a reviravolta à espreita.

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[Resenha] Carta a D.

O jornalista austríaco André Gorz conheceu Dorine em 1947, em Lausanne, na Suíça, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Como ele mesmo reconhece, o romance entre os dois era pouco provável. O que Dorine, uma bela e resoluta jovem inglesa, poderia querer com ele, um austrian jew, como o autor se define? Carta a D. (Companhia das Letras) que Gorz escreveu para a esposa depois de quase cinquenta anos juntos, busca retomar os alicerces dessa paixão, em talvez uma das mais memoráveis declarações de amor da literatura.

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

Mesmo sabendo que o amor é filosoficamente difícil de ser definido, Gorz tenta evocar os marcos de uma relação duradoura, buscando de certa forma explicar o inexplicável: porque nos apaixonamos por determinada pessoa, e não por outra, e porque continuamos a amá-la a vida inteira.

Um momento fundamental na vida do casal foi a decisão sobre o casamento. Para Gorz, uma burocracia que codificava juridicamente uma relação de amor. Para Dorine, o casamento tinha outro sentido:

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[Resenha] A Estalagem Vermelha

A história que poderia ser apenas mais uma curta novela policial ou um conto de suspense transforma-se, nas mãos do francês Honoré de Balzac, em uma pequena joia da literatura. L’Auberge Rouge (A Estalagem Vermelha) foi lançado em 1831 na Revue de Paris e integra A Comédia Humana, título que Balzac deu ao conjunto de sua obra e que se organiza em três frentes: Estudos de Costumes, Estudos Filosóficos (seção da qual este título faz parte) e Estudos Analíticos.

A narrativa começa com uma cena tipicamente burguesa: um jantar organizado em homenagem ao banqueiro alemão Hermann, que está de passagem por Paris. Após o banquete, uma das convidadas pede que o homenageado conte uma anedota alemã para elevar os ânimos dos convivas.

Hermann relembra, então, uma estranha história que ouviu durante o período em que esteve preso em Andernach, na época das guerras napoleônicas, depois de ter sido capturado pelas tropas francesas.

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[Resenha] Praia de Manhattan

Em apenas duas décadas, a cidade de Nova York foi palco de grandes transformações: da profunda crise econômica que se seguiu à quebra da Bolsa de Valores, em 1929, ao considerável esforço de guerra que tomou a cidade na esteira do ataque japonês à Pearl Harbour. Praia de Manhattan (Intrínseca, 448 páginas), da escritora Jennifer Egan, usa exatamente esse cenário para contar a história de amadurecimento de Anna Kerrigan, da infância ao início de sua vida adulta.

A história é contada a partir do ponto de vista de três personagens: além de Anna, seu pai e Dexter Styles, um conhecido gângster nova iorquino, também elaboram suas versões dos fatos. O romance começa com Anna ainda jovem, com cerca de 12 anos, visitando a casa de Styles ao lado de seu pai, em um dos furtivos encontros de trabalho entre os dois.

Aos poucos, alguns dos conflitos que cercam os personagens ficam claros. O pai de Anna perdeu tudo com a quebra da Bolsa e passou a depender de alguns trabalhos escusos para manter o padrão de vida da família, que inclui uma filha deficiente. Anna não consegue entender exatamente em qual vida seu pai está imergindo, até seu desaparecimento repentino, quando ela ainda era adolescente.

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[Resenha] Soldados de Salamina

Considerado um forte candidato a clássico pela revista The New YorkerSoldados de Salamina (Editora Globo – Biblioteca Azul, 213 páginas), do escritor espanhol Javier Cercas, é uma daquelas leituras que renovam a fé na literatura contemporânea. Uma história simples combinada a uma estrutura narrativa intrincada e inovadora faz dessa obra uma experiência recomendável a qualquer apaixonado por literatura.

O romance traz as aventuras de um escritor, que ao que tudo indica é o próprio Cercas, durante o processo de criação do seu novo trabalho, o livro Soldados de Salamina. Trata-se, portanto, de uma metanarrativa, ou seja, o relato se volta para ele mesmo.

Depois de algumas empreitadas frustradas na literatura e da decisão de abandoná-la, Cercas se vê novamente diante de uma história que precisa ser contada. O personagem central do episódio que o intriga é Sánchez Mazas, político e ideólogo da Falange, partido de sustentação da ditadura de Franco.

Capturado por republicanos nos estertores da sangrenta Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Mazas escapou de um fuzilamento e teve um retorno triunfal, quando as forças fascistas chegaram ao poder. A curiosidade pelos detalhes dessa fuga, que com o tempo ganhou contornos novelescos, levam o escritor a um trabalho profundo de investigação.

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