Autor: Mariane Domingos (página 4 de 43)

[Divã] Memória em cinzas

Que dia triste. Não foram apenas objetos que viraram cinzas. O incêndio que, neste domingo, devastou o Museu Nacional no Rio de Janeiro, acabou com 200 anos de pesquisa, destruiu um dos maiores acervos de antropologia e história natural do Brasil e levou um pouco mais da já escassa fé que temos no futuro do nosso país. Para qualquer pessoa que acredita no poder transformador da cultura, ver o descaso com que nossa sociedade trata esse tema é desesperador.

Um povo que ignora sua própria história é um povo disposto a cometer os mesmos erros. E quando falamos de memória, não precisamos nem ir muito longe para ver como ela é diariamente espezinhada no Brasil.

Basta prestar atenção em certos discursos que se proliferam nessas épocas eleitorais e que tentam amenizar ou até negar os horrores da ditadura. Estamos falando de um passado recente. O golpe militar tem pouco mais de 50 anos e já há quem o tenha esquecido.

A educação e a cultura, juntas, são os antídotos para esse esquecimento nocivo, porque, mais que oferecer e preservar conhecimento, elas munem o cidadão de identidade e capacidade crítica.

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[Resenha] Amiga de Juventude

A canadense Alice Munro é a rainha da narrativa breve. Não à toa, ela foi a primeira escritora dedicada exclusivamente a esse gênero a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, em 2013. A precisão de sua linguagem e a construção de ótimos personagens, em sua maioria figuras femininas, garantem aos seus contos a profundidade de grandes romances.

Amiga de Juventude (Globo Livros – Biblioteca Azul, 303 páginas) reúne dez narrativas publicadas em 1990. Nessas breves histórias, ela dá vida a mulheres cujas personalidades, em algum momento, entram em choque com seu meio social, desencadeando instantes de liberdade tão fugazes quanto decisivos

O destino dessas personagens é nebuloso, sempre nas entrelinhas, e é justamente essa condição que torna as histórias ainda mais envolventes. O leitor se deixa levar pela busca, às vezes inconsciente, empreendida por essas mulheres, e acaba em tramas marcadas por paixão, violência ou fantasmas da memória.

Munro sabe trabalhar muito bem a tensão do elemento surpresa. Embora sua escrita tenha um ritmo sereno, quem já conhece a obra da autora não se deixa enganar pela calmaria e logo enxerga a reviravolta à espreita.

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“Durante todo esse tempo parecia que algo se formava no silêncio em volta dele, uma lenta onda de compreensão com a força de uma maré montante que não quebrava ou explodia dramaticamente, mas que o levou nas altas horas da noite ao primeiro grande fluxo de entendimento da verdadeira natureza de sua perda. Tudo antes tinha sido uma fantasia, uma imitação banal e frenética do sofrimento. Pouco antes do amanhecer começou a chorar, e foi a partir desse momento, na semiescuridão, que assumiu o luto.”

 

Ian McEwan em A Criança no Tempo

[Lista] 5 livros menos conhecidos de grandes escritores

Quer conhecer a escrita de autores clássicos, mas está sem coragem para enfrentar logo de cara os calhamaços mais famosos? Ou, então, já leu vários livros de um grande escritor e está procurando títulos menos conhecidos para se aprofundar em sua obra? Esta lista será útil para você! Selecionamos cinco livros que, embora não sejam os mais célebres desses autores, são ótimos representantes da sua literatura.

1. Salões de Paris, de Marcel Proust: quando se fala de Proust, o primeiro nome que vem à cabeça é Em Busca do Tempo Perdido. No entanto, é preciso bastante dedicação para concluir os sete volumes dessa obra-prima. Caso falte disposição, não se preocupe. Isso não quer dizer que você não possa conhecer a escrita ímpar desse ícone da literatura francesa.

Salões de Paris reúne 22 textos de Proust, publicados entre o final do século XIX e início do XX, a maioria deles no Le Figaro. Nessa coletânea, é revelada a faceta do Proust jornalista que, em muitos aspectos, lembra a do célebre Proust romancista. De crônicas que versam sobre as festas requintadas da Paris do início do século XX até ensaios que refletem sobre memória e família, nesse livro, é possível apreciar toda exuberância do rebuscado estilo proustiano.

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[Resenha] A Estalagem Vermelha

A história que poderia ser apenas mais uma curta novela policial ou um conto de suspense transforma-se, nas mãos do francês Honoré de Balzac, em uma pequena joia da literatura. L’Auberge Rouge (A Estalagem Vermelha) foi lançado em 1831 na Revue de Paris e integra A Comédia Humana, título que Balzac deu ao conjunto de sua obra e que se organiza em três frentes: Estudos de Costumes, Estudos Filosóficos (seção da qual este título faz parte) e Estudos Analíticos.

A narrativa começa com uma cena tipicamente burguesa: um jantar organizado em homenagem ao banqueiro alemão Hermann, que está de passagem por Paris. Após o banquete, uma das convidadas pede que o homenageado conte uma anedota alemã para elevar os ânimos dos convivas.

Hermann relembra, então, uma estranha história que ouviu durante o período em que esteve preso em Andernach, na época das guerras napoleônicas, depois de ter sido capturado pelas tropas francesas.

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