Nas últimas páginas, vivemos mais alguns momentos insólitos na narrativa de O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov. A trupe do diabo subiu ao palco no Teatro de Variedades e, claro, a apresentação deixou todos desconcertados. Em seguida, de volta à clínica para loucos em que se encontra Bezdômny, fomos apresentados a outra figura-chave deste romance: o Mestre! Está acompanhando a leitura conosco? Então não deixe de comentar conosco o que mais tem chamado sua atenção neste livro. Na próxima semana vamos até a página 186, ou capítulo 17, caso você não tenha a edição da foto, da Editora 34!
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
A chegada de Woland e sua trupe ao teatro de Variedades causou comoção entre os habitantes de Moscou.
Em mais uma cena delirante, em que Bulgákov usa todas as suas ferramentas de dramaturgo para nos ambientar neste espetáculo, truques de mágica banais são substituídos por efeitos realmente assombrosos: baralhos aparecem no bolso da plateia, cédulas começam a jorrar acima dos espectadores e um guarda-roupa dos sonhos se materializa no centro do palco, com sapatos e roupas vindos diretamente dos melhores costureiros de Paris.
Não poderia ser diferente: mestres da magia negra, a trupe do diabo não encena simples mágicas. Todos os seus truques mexem com sentimentos violentos da plateia, da ganância à soberba, passando pela vaidade. São os pecados capitais – e o próprio capitalismo – que o diabo busca fazer aflorar nessa sociedade em que, no papel, todos são iguais aos outros. “São pessoas como as outras. Gostam de dinheiro, mas isso sempre houve”, comenta de passagem o diabo.
A administração do teatro tenta tomar controle da situação, como sempre sem muito sucesso:
– Bem, cidadãos, agora vimos um caso da assim chamada hipnose em massa. Um puro experimento científico, que não poderia demonstrar melhor que não existem milagres e mágica. Pedimos agora ao maestro Woland que nos revele esse experimento. Agora, cidadãos, os senhores vão ver como essas cédulas, pretensamente dinheiro, vão desaparecer tão repentinamente quanto apareceram.
O apresentador que faz essa ponderação, como todos que ousam cruzar o caminho de Woland, tem um destino assombroso (pois já desgastamos a palavra surreal em nossas análises deste livro). Behemoth, o gato, arranca sua cabeça, mas o mago e seu companheiro de pince-nez decidem lhe perdoar, devolvendo sua cabeça ao pescoço.
No entanto, para o apresentador, essa é uma parte do seu corpo perdida para sempre. Ele sai gritando, pedindo que devolvam sua cabeça, e só o reencontraremos no próximo capítulo, quando Bezdômny volta a descrever a clínica de loucos na qual está instalado.
O visitante misterioso que achávamos ser o diabo era na verdade outro paciente da clínica, cuja história, de certa forma, se relaciona à do poeta. Em um diálogo que chega a arrancar risadas, tamanha a sinceridade do interlocutor sobre a ingenuidade de Bezdômny, temos a confirmação final da identidade do mago que vem assombrando Moscou.
– (…) Não dá pra não reconhecê-lo, meu amigo! A propósito, o senhor… desculpe-me novamente, mas, se não me engano, o senhor é uma pessoa ignorante, não?
– Sem discussão – concordou o irreconhecível Ivan.
O paciente, identificado como Mestre (o personagem do título, finalmente!), faz o poeta ver quantas pistas ele ignorou e como era fácil identificar quem era, em realidade, o tal consultor. Pela primeira vez, Bezdômny encontra alguém que não vê apenas loucura em seus relatos.
O Mestre conta que se dedicou durante muito tempo a um livro sobre Pôncio Pilatos – o fatídico personagem que foi o assunto principal da conversa que desencadeou a sequência de acontecimentos desastrosos. No entanto, esse inesgotável romance foi o início da ruína do Mestre. Recebido de maneira bem hostil pela crítica literária, o escritor iniciante viu sua carreira degringolar antes mesmo de começar.
Assim, Bulgákov vai conduzindo duas histórias paralelas que, aos poucos, começam a se encaixar. O meio literário, a trupe diabólica e Pôncio Pilatos são os elos que, aos poucos, costuram os fios desse romance bastante sofisticado.
Até agora, estamos achando a leitura um verdadeiro clássico! E vocês? Contem nos comentários!
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