[O Retrato de Dorian Gray] Semana #8

Sabíamos que a revelação da verdade escondida pelo retrato de Dorian Gray seria dolorosa, mas os últimos dois capítulos trouxeram rumos inesperados para a trama. Está nos acompanhando nesta reta final? Para a próxima semana,  avançamos mais dois capítulos na leitura de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde (o 15 e o 16), até a página 224 se você tem a edição da foto, da Penguin-Companhia.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O confronto entre criador e criatura, antecipado desde as primeiras páginas do clássico de Oscar Wilde, tomou ares de livro de terror nos últimos dois capítulos. Depois da visita inesperada de Basil Hallward à casa de Dorian Gray, acusando-o de ter se tornado um homem vil, tido como má influência pela sociedade, o personagem decide enfim revelar seu segredo, tão bem escondido em um quarto de acesso restrito em sua mansão.

Quando Basil enfim se vê diante da tela em que, anos antes, havia imortalizado a beleza de seu amigo, é tomado pela incredulidade.

Sim, era o próprio Dorian. Mas quem o tinha feito? Reconhecia suas pinceladas, e a moldura que fora desenhada por ele. A ideia era monstruosa e sentiu medo. Pegou a vela acesa e a segurou diante do quadro.  No canto esquerdo estava seu próprio nome, traçado em letras alongadas em vermelho vivo.

Hallward se debate com a ideia de que seja o autor de um quadro em que figura um homem tão marcado por seus pecados, mas é obrigado pelo amigo a enxergar a realidade. Como o próprio Gray afirma, Hallward estava agora frente a frente com sua alma, e a visão era uma experiência horripilante. “Cada um de nós tem em si o Céu e o Inferno”, afirma Gray, sempre tentando fazer desmoronar os ideias morais de Hallward. É interessante como o protagonista se esforça em se eximir da culpa, responsabilizando o pintor pela ruína em que embarcou. Ele parece já buscar justificativas para a atitude extrema que vem na sequência.

A boa índole do pintor ainda prevalece, e ele tenta convencer Gray que a redenção é possível, basta que ele se arrependa de seus pecados e deixe de lado a idolatria a si próprio.

O efeito sobre Gray, porém, é o oposto do desejado. O personagem é tomado de ódio pelo amigo, a ponto de mirar uma faca e tomar uma decisão inesperada:

Hallward estremeceu na cadeira como se fosse se levantar. Dorian correu para ele e enterrou a faca na grande veia atrás do ouvido, esmagando a cabeça contra a mesa e golpeando-a repetidas vezes.

A cena, que curiosamente remete aos assassinatos cometidos em outra obra publicada em 1890, A Besta Humana, de Émile Zola (lida no Clube do Livro em 2016), nos pega de surpresa, por uma guinada tão abrupta do enredo, ainda que o subterfúgio narrativo encontrado por Wilde tenha passado longe da criatividade.

A partir dessa decisão sem volta, Gray será acometido por oscilações bruscas de humor e disposição, alternando entre o terror e a certeza de que jamais será pego.

Um personagem um tanto sombrio, encarregado de sumir com o corpo, também entra em cena, ainda que  a contragosto, exercendo a tarefa que lhe é conferida apenas diante de chantagens e ameaças. Podemos apostar que, nesse contato, está o começo da ruína de Gray, até aqui poupado de qualquer retaliação por seus comportamentos.

Enquanto isso, o quadro continua a se deteriorar, ganhando até respingos vermelhos em uma alusão ao sangue que o personagem tinha, agora, em suas mãos. Gray se converteu em um assassino e essa mancha será impossível de remover do retrato, ou melhor, da sua alma.

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2 Comentários

  1. Eu não lembrava direito dessa parte e, quando aconteceu o assassinato eu fiquei tipo…QUE?????????
    Saímos de um romanção meio filosófico para um thriller e eu até que gostei dessa movimentação, porque achei meio lentos os capítulos anteriores.
    A parte que ele dá sumiço no cadáver é a mais bizarra mas eu adorei…ahahaha

    • Eu também fui surpreendida!! Esta é a primeira vez que leio o livro, mas já vi o filme e não me lembrava dessa parte. Foi um trecho bastante macabro, mas eu também gostei da injeção de ânimo que ele deu à narrativa. Acho que a história não tem muito fôlego pela frente. Nos últimos capítulos, senti uma repetição de cenas e falas. Wilde deve ter percebido também, rs, não à toa, estamos caminhando para o fim da leitura!

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