Foi difícil segurar a leitura no último trecho! Será que a grande revelação vai acontecer? Vamos descobrir na leitura da próxima semana. Avançamos mais dois capítulos, o 13 e o 14, até a página 203 se você tem a edição da foto de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, da Penguin-Companhia.
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
Os anos avançam e a beleza de Dorian Gray se conserva na mesma medida em que sua alma e seu retrato se corrompem. Quase duas décadas se passam e Wilde resume em um capítulo, mais pautado em reflexões do em que ações, a vida de Dorian Gray nesse período: uma existência totalmente centrada no prazer.
O personagem coloca sua experiência sensorial e seus desejos acima de qualquer moral e leva uma vida que, não demora muito, vira alvo das fofocas da época. Época, aliás, que Wilde não perde a oportunidade de criticar:
Neste país basta alguém ser ilustre e ter cérebro para que todas as línguas vulgares se agitem contra ele. E que espécie de vida leva a gente que afirma ter moral? Meu caro amigo, você esquece que estamos na terra natal da hipocrisia.
A beleza imaculada de Gray já não combina com sua devassidão. As pessoas que se aproximam dele acabam, em algum momento, em ruína. Era como se sua beleza se alimentasse de um comportamento condenável e da decadência alheia.
Embora seu caráter fosse alvo de escrutínio, Gray não perdia sua posição, nem seu prestígio. É interessante como Wilde explica isso a partir de uma crítica sútil à sociedade de então, que, infelizmente, não está tão distante da nossa, igualmente negligente com a igualdade de oportunidades:
Sua grande fortuna era um elemento garantidor de segurança. A sociedade, a sociedade civilizada ao menos, nunca está pronta para acreditar em algo em detrimento dos que são ricos e fascinantes.
Wilde não perde, em nenhum momento, a oportunidade de criticar a sociedade vitoriana e seu “puritanismo rígido e inadequado”, ressaltando o império dos sentidos que Dorian Gray busca promover. No entanto, ao mesmo tempo, ele não deixa de também enfatizar como a opulência a que Gray se dedica acompanha a história humana, ao narrar, por páginas e páginas, os hobbies que o personagem cultivou ao longo da vida: da música aos bordados, passando pelo gosto por vestes eclesiásticas e joias magníficas.
Em uma ocasião ele se dedicou ao estudo de joias e apareceu em um baile a fantasia como Anne de Joyeuse, almirante da França, em um traje coberto com quinhentas e sessenta pérolas. (…) Ele muitas vezes passava todo um dia arranjando e rearranjando em suas caixas as diversas pedras que havia colecionado, como o crisoberilo verde-oliva, que se torna vermelho sob a luz, o cimofânio com sua linha aramada de prata, o peridoto cor de pistache, os topázios rosados como a flor e amarelos como as vinhas (…)
A vida voltada para o luxo e para o prazer, contudo, era apenas uma distração para seus pecados. Volta a meia, os pensamentos sombrios voltavam à cabeça de Gray. Mesmo trancando o retrato em um cômodo abandonado, frequentemente lhe surgia a necessidade de contemplar o quadro e se certificar de que ele ainda estava a salvo.
Também não escapava a alguns membros da sociedade a decadência moral de Gray, ainda que sua aparência física conservasse sua figura de traços angelicais e harmoniosos. Esse fato fica mais flagrante com a inesperada visita de Basil Hallward, às vésperas de seu aniversário de 38 anos.
Certo dia, Basil o aborda na porta de casa, sem que Gray posso evitá-lo. A conversa entre os dois logo toma o rumo de um confronto, à medida que Basil o questiona acerca de rumores que têm ouvido sobre seu comportamento e principalmente sobre o efeito que o personagem tem sobre seus amigos.
Sutilmente, Wilde volta a colocar o famoso retrato no centro da narrativa, quando Basil questiona se de fato conhece o amigo:
“Conhecer você? Eu me pergunto se o conheço? Antes de responder, teria de ver a sua alma!”
A frase tem um efeito enlouquecedor para Gray, que decide então mostrar o quadro, até então guardado como um segredo absoluto, ao amigo. Até mesmo nesse ato o personagem consegue demonstrar seus sentimentos vis:
Sentia uma alegria terrível de pensar que alguém mais compartilharia de seu segredo, que o homem que pintara o retrato, que estava na origem de toda a sua vergonha, carregaria pelo resto da vida a lembrança horrenda do que havia feito.
Será que teremos criador e criatura frente a frente nas próximas páginas? Como Gray reagirá ao se dar conta de ter exposto seu segredo? Deixe seus comentários aqui embaixo e continue acompanhando a leitura com a gente!
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