Na próxima semana, damos início à sétima edição do Clube do Livro do Achados & Lidos! Pela primeira vez, optamos por uma obra do gênero de contos e selecionamos, para essa estreia, um título de uma escritora que tem ganhado bastante destaque nos últimos tempos – a canadense Margaret Atwood. Em se tratando de um livro de histórias curtas, preferimos avançar um conto por semana, seja ele mais curto ou longo, para facilitar a análise e manter a fluidez do Clube do Livro. Esperamos que vocês gostem dessa solução! Assim, na semana que vem, vamos até a página 40, o equivalente ao conto Lixo Verdadeiro.
A escolha do título partiu de uma confluência de fatores. Há algum tempo, a Sté Tiveron, uma de nossas leitoras e amiga (responsável pela carinha linda desse blog!), citou o Dicas da Imensidão em um dos nossos desafios semanais, elegendo-o a melhor leitura do mês. Na semana seguinte, foi publicado um ótimo perfil de Atwood, escrito por Rebecca Mead, em uma das revistas que acompanhamos, a The New Yorker. Também não demorou muito para a adaptação para televisão da obra mais famosa da canadense, O Conto da Aia, ganhar as manchetes. O seriado está sendo transmitido desde o final de abril na plataforma Hulu, um site de vídeos, e tem no elenco nossa eterna Gilmore girl Alexis Bledel.
O livro também voltou à pauta por ser uma distopia em que as mulheres são tratadas como objetos cujo único valor é a fertilidade. Em uma fotografia tirada no dia depois da posse de Donald Trump, na Women’s March em Washington, uma manifestante segurava um cartaz com a frase: “faça margaret atwood ser ficção de novo”. Não à toa, a reportagem que traça o perfil da escritora é intitulada “A Profeta da Distopia”. Enfim, tudo isso para contar que resolvemos prestar atenção a todos esses sinais e escolhemos o título para o nosso próximo clube, rs!
A escritora teve uma criação bastante peculiar. Seu pai, Carl Atwood, era um etimologista e até a filha completar o ensino fundamental, sua família passou todos os meses, exceto os mais frios, em completo isolamento em estações de pesquisa de insetos, localizadas em regiões selvagens, primeiro ao norte de Quebec e depois ao norte do Lago Superior, o maior dos cinco grandes lagos da América do Norte.
Atwood começou a escrever ainda no colégio e, quando chegou a vez de ingressar na faculdade, ela seguiu o irmão e entrou na Universidade de Toronto, onde começou no curso de Filosofia. Logo mudou para a Literatura e começou sua carreira como poeta.
Embora sua obra seja frequentemente associada ao feminismo e ela seja uma pessoa claramente engajada na luta pelos direitos das mulheres, Atwood mostra uma certa resistência à associação com o feminismo, conforme fica claro nesse trecho do artigo da The New Yorker:
Essa cautela reflete sua inclinação à precisão, e uma sensibilidade científica que foi arraigada ainda em sua infância: Atwood quer que os termos sejam definidos antes que ela tome uma posição. Seu feminismo assume que os direitos das mulheres sejam os direitos humanos, e nasceu do fato de ela ter sido criada a partir da presunção de total igualdade entre os gêneros. “Meu problema não era que as pessoas queriam que eu usasse vestidos rodados cor-de-rosa – era que eu queria usá-los, e minha mãe, sendo como era, não via razão para isso”, ela disse. A infância de Atwood na floresta lhe garantiu um senso de autodeterminação, e uma distância crítica dos códigos da feminilidade – uma habilidade para ver esses códigos como práticas culturais que merecem ser questionadas, e não aceitas como condições necessárias, sem mesmo pensar sobre elas. Essa capacidade do escrutínio está em grande parte de sua ficção: não aceitar o mundo como ele é permite que Atwood imagine o mundo como ele deve ser.
Em outras entrevistas e artigos, Atwood vai um pouco além. Seu confronto com o feminismo parte da carga associada à palavra. Em um texto publicado pelo jornal The New York Times, a escritora canadense argumenta que a preocupação com direitos humanos lhe é cara, mas diz que feminismo não pode ser um argumento que chancele a vitimização ou a idealização das mulheres, que devem agir em um campo moral já delimitado.
A moralidade, aliás, é um tema frequente em sua literatura. Em seu perfil na The New Yorker, Atwood afirma que não é possível usar a linguagem e se dissociar da moral, dado que as palavras são tão carregadas de significado e todos os personagens, queiram ou não, se deparam com escolhas.
Em Dicas da Imensidão, cujas narradoras são predominantemente mulheres, os personagens se deparam justamente com os momentos únicos capazes de moldar uma vida inteira.
Pela sinopse, podemos esperar traços marcantes da ficção dessa grande e prolífica escritora: a sobreposição entre passado e presente, a imposição das escolhas, fortes embates e dilemas morais. Atwood tem uma linguagem cirúrgica, precisa e cortante, ainda que muito detalhista. As descrições são objetivas: há pouco em sua literatura que seja acessório, e esse rigor quase científico pode ser uma herança, como argumenta a jornalista Rebecca Mead, de um pai cientista que em tenra infância lhe apresentou o uso do microscópio.
Animados para a próxima semana? Então contem para a gente o que esperam dessa leitura!
Achados & Lidos
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26 de maio de 2017 at 22:00
Não conhecia a autora e estou muito animada. Acho que a escolha dos contos foi acertada. Amo romances, mas não conseguia acompanhar pq tinha vontade de ler tudo de uma vez e não esperava as postagens (aconteceu com o Valter Hugo Mãe e Zola). Sucesso!
27 de maio de 2017 at 20:06
Ana, também estamos animadas! Confesso que às vezes me dava vontade de avançar a leitura também, haha. Acho que os contos são uma boa solução. Será muito bom tê-la de novo conosco! 🙂
29 de maio de 2017 at 03:10
Ana, também sofro dessa ansiedade! O mais difícil para mim foi Hibisco Roxo! Acho que será uma ótima experiência ler contos! E ainda estou em um caso de amor com Margaret Atwood!