Quando chega o mês de fevereiro, eu e a Mari praticamente trocamos nossas leituras pelas salas de cinema. A corrida para ver os filmes indicados ao Oscar é mais uma das paixões que dividimos. Por isso, nada mais natural que as listas deste mês tenham inspiração cinematográfica.
Na semana passada, a Mari fez uma ótima seleção de cenas lindas de filmes nos quais os livros são protagonistas. Hoje foi a minha vez de puxar na memória cinco adaptações tão bem feitas que a transposição para a telona acabou levando a estatueta de Melhor Filme no Oscar. Lembra de mais algum exemplo? Conte para a gente nos comentários!
1. …E o Vento Levou: O clássico de 1939 se baseia no livro homônimo de Margaret Mitchell. A história da sedutora e teimosa Scarlett O’Hara, a personagem principal desse drama sobre a Guerra Civil americana, é uma das mais famosas do cinema. Para escolher a atriz que viveria a personagem na telona, o produtor do filme entrevistou nada menos do que mil e quatrocentas atrizes, entre elas Bette Davis, mas quem acabou ficando com o papel foi Vivian Leigh. A química entre ela e Clark Gable, que faz o papel de Rhett Butler, ainda arranca suspiros dos espectadores.
Coube à Vivian Leigh imortalizar a passagem de encerramento do livro de Mitchell (não se preocupe, não é um spoiler!):
Amanhã, em Tara, hei de pensar em tudo isso. Então terei mais forças. Amanhã pensarei no meio de fazê-lo voltar. Afinal, amanhã é um outro dia.
Indicado a treze estatuetas, …E o Vento Levou foi vencedor em dez, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Hattie McDaniel, que venceu nesta última categoria, foi a primeira mulher negra a ser premiada com um Oscar, por seu papel como Mammy (em 2017, são três negras indicadas nesta categoria, e Viola Davis deve levar por sua atuação em Fences). Enfrentar esse clássico do cinema exige disposição. São impressionantes 3h58 minutos de duração, que fazem jus às 1024 páginas do livro.
(Uma curiosidade: naquela época, a fotografia ainda tinha duas categorias: preto e branco e em cores!)
2. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei: Assim como o clássico de Margaret Mitchell, a trilogia escrita por J. R. R. Tolkien também está entre os livros mais vendidos do mundo´há anos.
Normalmente, a Academia costuma esnobar esse tipo de adaptação. Harry Potter e seus sete filmes, por exemplo, não conseguiu angariar sequer uma estatueta. Tudo indicava que O Senhor dos Anéis teria o mesmo destino, vencendo apenas nas categorias mais técnicas, mas os jurados do prêmio mais importante do cinema guardaram a surpresa para o último filme da saga, O Retorno do Rei, em 2003.
Naquele ano, o filme dirigido por Peter Jackson levou 11 estatuetas, incluindo a estatueta mais importante da noite, o que alçou a película a uma das mais premiadas da história do cinema (fiquem de olho em La La Land, que pode repetir o feito neste ano, com 14 indicações).
Se você não está familiarizado com a história, prepare-se para encarar longas horas (ou muitas páginas) sobre a história de Frodo, um hobbit que recebe como herança de seu tio um anel que deve ser destruído. Nesta missão, ele terá a companhia de Sam, com quem vai enfrentar batalhas intermináveis até chegar a Mordor . No caminho, juntam-se a eles elfos, reis e outras várias criaturas mágicas. Pessoalmente, a saga nunca teve o mesmo apelo de outros livros que todo mundo lê na adolescência, mas minha avaliação é bem parecida com a dos críticos da Academia: vale enfrentar a chatice do primeiro livro para ser agraciado com as batalhas do terceiro.
3. O Paciente Inglês: A lista dessa semana bem que poderia ter outro título: filmes com mais de duas horas de duração. Desculpem, não é de propósito, mas é que O Paciente Inglês não poderia ficar de fora dessa seleção.
O belo romance de Michael Ondaatje, premiado com um Booker Prize, rendeu uma linda adaptação para o cinema. A história do homem que, abatido em um voo na Segunda Guerra Mundial, tem o corpo e a face desfigurados por queimaduras, é do tipo que exige levar um lencinho para o cinema. Sem que ninguém saiba sua identidade, o paciente relembra a uma enfermeira o romance que viveu com a esposa de seu melhor amigo, num relato que acabará por interligar quatro pessoas sem nenhuma conexão aparente.
Além da estatueta de Melhor Filme, rendeu a Juliette Binoche o prêmio de Melhor Atriz.
4. 12 Anos de Escravidão: Depois de assistir a esse filme, que ganhou o Oscar em 2014, tenho que admitir que não tive a coragem para ler o livro em que a história se baseou, que leva o mesmo título.
Em suas memórias, Solomon Northup compartilha as lembranças de uma época em que o “azar” poderia levá-lo a ser vendido como escravo. Nascido um homem livre em Nova York, Northup tinha esposa e filhos, mas acabou capturado quando viajou para fazer um trabalho e passou os doze anos seguintes em servidão, tentando provar seu direito à liberdade. As memórias de Northup, publicadas em 1853, são consideradas um dos mais detalhados e precisos relatos sobre como funcionava a sociedade escravagista americana, até porque Northup foi um dos poucos que sobreviveram e puderam contar essa história.
O filme é um soco no estômago e não há quem consiga assistir à cena em que a jovem Patsey (Lupita Nyong’o) é chicoteada pelo capataz da fazenda, interpretado por Michael Fassbender, incólume.
5. Uma Mente Brilhante: Me rendi ao corporativismo e escolhi, para completar essa lista, a biografia que a jornalista econômica Sylvia Nasar escreveu sobre John Nash, um dos mais brilhantes e controvertidos matemáticos do
último século. Temos que admitir que adaptar biografias ou memórias é muito mais fácil do que obras literárias, mas também não dá para negar que o diretor de Uma Mente Brilhante, Ron Howard, fez um ótimo trabalho.
Nash, que foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 1994, por suas contribuições para a Teoria dos Jogos, umas das áreas mais importantes do estudo da economia até hoje, muito cedo passou a enfrentar surtos paranoicos, decorrentes da esquizofrenia. Nash aprendeu, com o tempo, a controlar sua doença, mas os anos em que sua esquizofrenia se manifestou foram traumáticos. Levaram-no a se separar de sua mulher, a física Alicia, com quem voltaria a se casar mais tarde, deixar o MIT e até a se mudar para a Europa, sob o temor de estar sendo perseguido. Morreu em 2015, em um triste acidente de carro, quando voltava do aeroporto, depois de receber, em Estocolmo, a premiação pelo Abel, considerado o “Nobel da matemática”.
Tainara Machado
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7 de fevereiro de 2017 at 18:47
Oi, Tainara! 🙂
Eu sempre acho que os melhores filmes são os inspirados em filmes, salvo algumas exceções como os filmes do Woody Allen.
Eu tenho a impressão que os personagens são melhores pensados e tem mais profundidade quando são inspirados em livros, já que o livro é sempre mais detalhado, sabe? 🙂
Beijos,
Giulia | 1livro1filme.com.br
8 de fevereiro de 2017 at 14:09
Oi, Giulia, tudo bem? Obrigada pelo seu comentário!
E tendo a concordar com você! Claro que temos bons roteiros originais, mas os filmes que se baseiam em livros costumam ser mais interessantes (eles só dificilmente superam a obra na qual se inspiraram, não é? rs)!
E muito legal o seu blog também! 🙂