Todos animados para começar o ano com a leitura de Enclausurado, de Ian McEwan? Para a próxima sexta-feira, leremos os dois primeiros capítulos, até a página 26. Acompanhe com a gente!
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
Um dos lançamentos mais comentados de 2016, Enclausurado, desperta a atenção pela originalidade de seu enredo. Quem imaginaria um feto como narrador de uma trama nada ingênua? A resposta certa é: o escritor inglês Ian McEwan.
Em sua recente passagem pelo país, ele revelou que teve a ideia da narrativa, e até formulou mentalmente a primeira frase do livro, enquanto conversava com a sua nora grávida. A partir daí, ele usou toda sua habilidade como romancista para explorar a riqueza do realismo na literatura.
Enclausurado é um livro que parte de uma impossibilidade física e biológica: o narrador é um feto que opina sobre o mundo e a sua ansiedade, enquanto testemunha os planos da mãe e do amante para o assassinato de seu pai. Em uma das palestras do Fronteiras do Pensamento que fez no Brasil, McEwan explicou por quê, mesmo com um ponto de partida tão inverossímil, essa obra se aproxima tanto do mundo real:
Eu vejo este livro como um romance que segue a tradição do realismo, porque, uma vez que esta primeira premissa é aceita, todo o resto que eu faço, neste romance, está no universo de um mundo compartilhado que eu acho plausível.
McEwan, como todo bom escritor, é um observador perspicaz do universo que o rodeia. Sua obra é marcada por temas polêmicos, por vezes sombrios, que inquietam o leitor. O Jardim de Cimento, por exemplo, é uma leitura que provoca silêncios perturbadores. Sem meias palavras, nem lirismos, McEwan nos conduz ao inferno existencial dos personagens. Essa característica, mais forte no começo de sua carreira, até lhe rendeu o apelido de “Ian Macabro”.
Em Reparação, seu romance mais famoso, a mesquinhez e a ambiguidade da alma humana são escancaradas brilhantemente por meio de personagens complexos e apaixonantes. Já em Solar, o fino humor inglês, que aparece até mesmo nos discursos do autor, domina a narrativa. O personagem principal é o típico anti-herói, um auto-centrado e sarcástico diretor de um centro de pesquisa sobre aquecimento global que se enxerga como uma estrela, mas é apresentado aos leitores como um dos exemplares mais abjetos da espécie humana.
Entre conflitos éticos e morais, a verdade é que McEwan não costuma ser muito generoso com seus personagens, ao representá-los em suas fraquezas, inquietudes e decepções de modo muitas vezes irônico. Mas, como ele mesmo disse durante a palestra aqui em São Paulo, “o papel do escritor não é dizer como as pessoas devem viver, mas descrever como elas vivem”.
Personagens fortes e ambíguos, humor ácido, trama poderosa e um olhar perspicaz sobre uma realidade sombria. Esperamos de Enclausurado um pouco de tudo isso, além, claro, de boas surpresas com um narrador tão peculiar. As apostas são altas, mas colocamos fé em McEwan, que, não à toa, é considerado um dos grandes romancistas contemporâneos.
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