[Vozes de Tchernóbil] Semana #9

Este é o último post sobre Vozes de Tchernóbil. Gostamos muito da leitura e estamos ansiosos para os próximos lançamentos da Svetlana Aleksiévitch no Brasil. Como já fizemos anteriormente, abrimos espaço para que os leitores que nos acompanharam ao longo dessa leitura pudessem compartilhar o que acharam do livro. Ficamos muito felizes com a participação de vocês!

Caroline Arice

O que dimensiona o tamanho de uma catástrofe? Geralmente, são os números. O número de mortos, o número de desabrigados, o número de órfãos, o número de afetados física e psicologicamente. Já Svetlana Aleksiévitch dá um rosto – ou vários – a um dos maiores desastres da história da humanidade. O horror que nós conhecíamos por números fica ainda mais chocante quando “ouvimos” as vozes de quem viveu e ainda vive a história de Tchernóbil. E a verdade é que um bom depoimento vale mais do que qualquer relatório de dados.

O povo bielorusso estava, sim, preparado para o pior – afinal, o que pode ser pior do que uma guerra que dizimou quase um terço da população? Eles estavam à espera de um inimigo definido, manifesto e incontestável, como havia sido durante a guerra. Então, como lidar com uma ameaça invisível que não tem som e nem cor? No livro, os relatos intercalam-se com lembranças da guerra e com a decomposição da União Soviética. Com fatos, para eles, muito mais fáceis de digerir e entender do que um desastre nuclear sobre a qual nunca tinham ouvido falar. Por isso, a imagem da tragédia de Tchernóbil parece uma história mal enterrada.

Vozes de Tchernóbil, para mim, foi um soco no estômago como tinha sido a leitura de Diário de Anne Frank e É isto um homem?, do Primo Levi. O sentimento que me trouxe foi exatamente o mesmo: o que ainda está por vir? Estaremos nós, humanidade, preparados mesmo para o lado ruim do que nós mesmos criamos? Eu não sei vocês, mas, às vezes, me dá um frio na barriga só de imaginar o que nos aguarda.

 

Gabriela Domingos

Uma edição maravilhosa e um texto espetacular. Vozes de Tchernóbil é um livro forte e ao mesmo tempo sensível. Diante dos relatos podemos perceber claramente as “anotações da alma”, vozes individuais que proporcionaram a reflexão sobre o que foi e o que é viver este desastre nuclear. Enfim, é um livro que veio para fazer a diferença no universo da literatura.

 

Leonardo Rela

Antes de iniciar a leitura do livro Vozes de Tchernóbil, tinha a impressão de que seria mais um livro investigativo sobre a tragédia do desastre nuclear, mas fui surpreendido, porque me senti na pele da autora fazendo as entrevistas. Emocionante, do primeiro ao último relato. Em meio às perdas de maridos, filhos e esposas, não sei se transmitiria da mesma maneira para os leitores.

 

Renato Morais

Aleksiévitch recorta Tchernóbil em mil pedaços, distribui na mesa e alinhava com suor, sangue, lágrimas. Fala sobre o desconhecido, sobre as tristezas de cada um – e, a partir dos indivíduos, constrói o esboço de uma humanidade ferida. É desses livros que merecem releitura. Uma, duas, dez vezes, quantas necessárias para reafirmarmos nossa humildade, nossa própria humanidade.

 

 

Camila de Lira

Literatura ou jornalismo? Era essa a minha principal questão, e curiosidade, admito, ao começar a ler Vozes de Tchernóbil, da jornalista Svletana Aleksiévitch. Pergunta que foi respondida logo no final da primeira página do livro: sim, é literatura e das boas. Daquele tipo de literatura que nos faz chorar, e sorrir, e desacreditar no mundo para voltar a acreditar nele novamente, mesmo que seja por alguns segundos. Percorrer os depoimentos escritos por Svetlana com tanta verdade, tanta emoção, é devastador; a sensação de impotência cresce. Não vou mentir, tem momentos em que a vontade é de colocar o livro dentro do freezer, como Joey, em Friends. A verdade deste livro é feroz, não tem sutilezas, é mais real do que qualquer documentário ou reportagem feitos sobre o assunto. Talvez seja esse o melhor prêmio do livro. Não, não é o Nobel: mas a sua insistência em ecoar essas vozes que nos contam histórias difíceis; a sua insistência em nos mostrar o doloroso, o feio, a morte; a insistência em puxar os nossos rostos para ver a cena ruim do filme com os olhos abertos e atentos. Num mundo completamente tomado por verdades artificiais – publicadas e republicadas em posts de Facebook e em fotos com filtro no Instagram – ter contato com a verdade crua choca ao mesmo tempo que ensina.

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2 Comentários

  1. O livro Vozes de Tchernóbil é uma leitura marcante. A princípio, talvez aparente ser um livro de terror, como muitas histórias fictícias sobre o desastre e Tchernóbil. Mas o único terror apresentado no livro é o real, em outras palavras, o impacto e resultados do desastre na vida de todos que viviam na área afetada.

    Não é o foco do livro apresentar os fatos que causaram o desastre ou os nomes dos responsáveis pela tragédia. Muito embora os temas sejam abordados na narrativa. Em sua entrevista consigo mesma, a autora diz:

    “Este livro não é sobre Tchernóbil, mas sobre o mundo de Tchernóbil.”

    As entrevistas mexem com nossas emoções. Há o resgate da empatia, o convite de sentir o que sentiu uma outra pessoa caso estivéssemos na mesma situação vivenciada por ela. Durante a leitura, procurei compreender sentimentos e emoções, desde os mais racionais aos motivados pelo desespero. Senti meus problemas se minimizarem por observar a força que diferenças pessoas demonstraram diante de uma severa adversidade. E acima de tudo, percebi que embora triste, as histórias de vida exaltam o poder do amor.

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