Eu tenho manias pequenas de organização. Digo pequenas porque elas não se estendem a um leque muito amplo de assuntos. Não tenho TOC com sapato virado para baixo, armário desarrumado, caixa de entrada de emails lotada. Não fico paranoica se não guardar minhas contas exatamente em ordem cronológica.
Feito esse parênteses, preciso dizer que sofro de transtorno obsessivo por catalogar e arrumar livros. Começou cedo. Quando eu era pequena, lembro do meu pai catalogando revistas de letra e música (sim, foi no século passado que isso aconteceu), que ele usava para poder tocar violão. Não sei exatamente quais eram seus critérios, mas me recordo que cada revista tinha uma etiquetinha com um número, cada número recebia um título em uma planilha, que ficava em uma pasta e, posteriormente, no computador, e esse sistema permitia que ele achasse facilmente o que queria.
Eu não devia ter mais do que dez anos de idade e achei aquilo incrível. Decidi, então, catalogar meus gibis da Turma da Mônica, que formavam praticamente todo meu acervo literário da época. Era fácil. Como eu não perdia quase nenhuma edição, só precisava seguir a ordem da banca. Mesmo assim, às vezes achava um exemplar perdido pela casa e ficava muito frustrada em ter que incluí-lo no lugar errado, atrapalhando toda a numeração.
Na adolescência, já depois do primeiro computador chegar em casa, voltei a ter um arquivo detalhado dos meus livros, que incluía ano da compra, da leitura, edição, nacionalidade do autor e outras coisas assim. Eram bons tempos em que havia pouco a fazer e eu me ocupava por longas horas com atividades como essa.
O problema é que, na vida pré nuvem, pane no sistema significava que voltávamos à estaca zero. Em algum desses momentos, perdi o arquivo. Nunca mais fiz um novo, até porque desde então, catalogar e organizar livros só ficou mais difícil.
Na estante, por exemplo, eu tento separar os volumes por nacionalidade. Uma prateleira para autores brasileiros, outra para latino-americanos, outra para europeus, mas aí vem aqueles problemas insuperáveis. A prateleira das biografias, um gênero que eu particularmente adoro, é a primeira a acabar com essa suposta ordem. Esbarro logo a seguir com a harmonia visual. Não é porque Pablo Neruda e Alejandro Zambra são chilenos que, necessariamente, as edições combinam. Uma é coloridinha e fofa, a outra é amarela e pequena. Não batem.
Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez é de uma coleção que tem ainda Proust e Simone de Beauvoir. O que deve preponderar? A coleção ou a nacionalidade? E quando a editora muda a cara da coleção no meio do caminho, como fez a Globo com o Proust supracitado? Tenho vontade de desistir e começar tudo de novo.
Até hoje, confesso, tem prevalecido a estética. Biografias e coleções ficam juntas; o restante é separado mais ou menos por tamanho e cor, e a partir daí é que vem os critérios que passam a ser secundários, como a tentativa de reunir nacionalidades e temas.
De qualquer maneira, venho pensando em colocar tudo em um Excel de novo. Pelo menos, vou evitar ficar parada em pé na livraria pensando: mas qual é mesmo o Roberto Bolaño que eu tenho? Catalogar, eu espero, é mais fácil do que organizar.
E vocês, enfrentam dilemas parecidos?
Tainara Machado
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26 de abril de 2016 at 17:33
Hahahahaha Tata, adorei você catalogando Gibis!!! fofa!!!
26 de abril de 2016 at 22:44
Hahahah não chego perto dos seus Tocs de organização, Gabi 😉